domingo, 16 de novembro de 2008

kissing in the rain

Ela já estava ficando cega de tanto trabalhar. Os olhos fechavam e na cabeça ficava a imagem do menu de iniciar, os ícones do desktop e o envelopinho do outlook girando no canto da tela. Desceu para tomar um café, mas encheu o mini-copo de plástico e jogou no lixo sem ao menos molhar os lábios com a bebida. Ela precisava sair dali, tinha alguém esperando, alguém melhor, alguém bonito. Ele era barbudo, alto, falava segurando o "g", ouvia música o tempo todo, fosse nos fones de ouvido - quando na rua - fosse em casa no seu laptop que servia apenas para isso. Ela estava com os ingressos do cinema e eles veriam um filme de terror, pré-estréia. Ele tinha algo para dizê-la, o que a fazia temer pelo que estava por vir. Seu amor era grande, a felicidade por tê-lo encontrado, também, mas via que tinha algo atrapalhando a sua doação. Chovia muito lá fora e sabia que se não fosse ele a sua companhia, ela já teria, na ponta da língua, uma desculpa para fugir da sessão e ir para casa, deitar e descansar daquele olhar viciado em cronogramas e powerpoints.

Comprou a pipoca na porta do Passo, trocou os e-tickets pelos ingressos, ficou esperando que ele chegasse. Ele andava, de laranja, ao lado dela, sem perceber que ela fazia "psiu". Ele estava levemente apressado e olhava reto para a frente, sem tê-la visto. Foi bom vê-lo assim, tão de perto, tão na ignorância por ser observado. Amou-o um pouco mais e antes de puxá-lo pelo braço, temeu mais uma vez, pelo que poderia estar se aproximando. O filme foi bom, os dois se beijaram e deram as mãos, como dois namorados no cinema e isso acalmava seu coração, que estava aflito por demais. Queria poder dar o mesmo para o seu barbudo de casaco laranja; poder pegar seu coração no colo e cantar para ele dormir.


Se beijaram na chuva, na entrada do metrô, enquanto decidiam se pegavam um ônibus para a casa dela ou um metrô para a dele e esse beijo com as gotas caindo em sua cabeça a fez sentir numa cena de filme, num quadro preto-e-branco, e quisera poder parar ali para sempre. A chuva caindo, (m)olhando os dois, agradecendo o beijo em meio a tanta confusão e sujeira naquela rua na Cinelândia, onde poucos têm tempo e tranquilidade para amar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, como sempre...
bjs

Unknown disse...

romantismo no ar!