quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Homem nu

O homem nu não está pelado; o homem nu está inteiro.

Ele é de verdade, é rasgado, livre.
O homem nu é despido. De tudo.

O homem nu existe, dá, recebe. Oferece, bebe. O homem nu transcende, homem nu é deleite, é de quatro, é em pé, é sentado. Ele se mexe, sorri, ajeita os óculos. O homem nu tem medo, pede desculpas e sim, o homem nu fica pelado. Homem nu é macho, homem nu é leve; homem nu é bom. Demais.

Homem nu é homem de verdade, uma delícia de verdade de homem, uma verdade de homem delícia.

Homem nu é verbo. Homem nu delicía.

Homem nu é bom de falar. ho-mem-nu. Parece beijo com lambida. Homem nu merece beijo com lambida. Todos os beijos com lambida que uma mulher tenha para dar.

Homem nu pede, homem nu atende, o homem nu é corajoso, homem nu é fogo. Homem nu é lindo, homem nu me treme. Não se encosta no homem nu e ainda assim, se sente. Homem nu me molha, homem nu me olha, homem nu me come, homem nu me tem.

E eu não canso de falar homem nu.

O homem nu é foda.

Meuhomemnu.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Mais uma virginiana.

Ela me deu colo, me deu peito, cama, cafuné, amor. Ela me deu a vida, a luz. Esperou por mim e me embalou enquanto pôde. Curou meus machucados de infância, e, mesmo quando eles apareceram alguns anos depois, o carinho depositado à adulta não foi menor, mais seco ou menos voluntário.

Minha mãe, minha Rose, mãezinha, que hoje faz aniversário.


Parabéns que o dia é seu!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Até quando esperar?

[Do feriado.]

Estava eu, há poucos minutos, num momento mulherzinha com uma grande amiga: bebendo vinho com um filme há horas no pause, como se fôssemos engatar algum momento, mas não. Queríamos rir, falar, nos lamentar, reclamar, pedir opiniões, desabafar, checar e-mail, distrair.

Mania de amiga.

Perguntávamos uma à outra e, no fundo, uma perguntava a si própria: por que desencontro? Já não chega, já não levamos tudo o que podíamos? Quando arriscar, quando não ir, quando parar, quando se cansar? Ela tentou me (se) tranquilizar e falou:

– ..., se bem que uma amiga me disse que existem várias mulheres dentro da gente e, a cada história, matamos uma delas. Sempre na próxima história a gente mata mais uma.

Eu, ainda decidindo se estava diante de uma boa notícia ou não, perguntei:

– Será?

Um pequeno silêncio se formou (quem me conhece sabe que só é possível, comigo por perto, um bem pequeno silêncio; essa coisa de nãofalar nunca esteve entre minhas maiores aptidões) antes que eu concluísse:

– Tá bem. Eu topo. Mas pergunta pra essa amiga aí quantas a gente precisa aniquilar. Eu tenho de saber se pra mim faltam 15, 35, 80 ou 417!

Depois de algumas gargalhadas, ainda meio inconformadas e com os dentes levemente arroxeados de vinho, começamos a calcular quanto tempo ainda precisaríamos, tendo em vista que cada mulher dessa carece de uns seis meses de história, no mínimo, antes do último suspiro.

Estava vendo a hora em que marcaríamos um carnaval na Bahia para agilizar o processo: tentar matar umas seis safadas em uma semana. Uma espécie de paredão interior, um corredor polonês sentimental. Foi um tal de fazer contas, estimativas, pensar em desenvolver planilhas, investigar cotas.

Chegamos a uma conclusão que poderia ser resumida da seguinte forma: “Amiga, tâmu matando mulher dos outros, não é possível! Tem gente que não matou essa mulherada toda ainda e tá aí tirando onda”. E desandamos a lembrar histórias alheias inexplicavelmente românticas.

Pensei na última palhaça morta. Tal pensamento acabou por me lembrar que a sirigaita interna anterior à última, a mulher da vez na fila da entrada do meu coraçãozinho, foi maldita. A danada galhofou a minha vida, me fez descer abaixo do nível do mar, dilacerou partes essenciais de autoestima, avacalhou todas as possíveis emoções do tempo que ela durou.

Não, amiguinha. Só nessa história aí morreu o equivalente a uma tribo indígena. Não era uma só mesmo. Matei umas dez mulheres da Deborah Secco, outras 17 da Britney, sem contar a bela contribuição que dei para quitar as fêmeas interiores de quatro ou cinco colegas do trabalho.

Eu e minha amiga, na verdade, não chegamos a uma conclusão. Ela ficou de perguntar para a dona da teoria se havia alguma informação na internet, alguma dica sobre o grupo seguidor da crença das muitas-mulheres-que-habitam-nosso-corpo-e-vão-morrendo-a-cada-história-nossa-de-vida.

O filme também não vimos. O vinho acabou, a fumaça saiu pela janela, continuamos sem resposta para nossas questões mais profundas. O combinado foi que eu voltaria com um texto, e ela, com a resposta do grande enigma.

Não sei se quero saber. Sério. Medo de descobrir que, depois de essa de agora morrer, ainda me restarão 55. Porque é a minha cara a ordem de grandeza ser daí para cima. Apenas mais cinco ou logo-a-próxima seria moleza demais. E nesse campo, pelo menos, minha vida nunca desfrutou de muita moleza.

Abraçamo-nos, ela voltou para casa, não sem antes deixarmos combinada a praia do dia seguinte: topei a ida ao Leblon, dentro do fusca, com um jornal e um livro, dar um mergulho ou não. Acreditávamos que ia fazer friozinho.

Em meia hora já estava cada uma em seu pequeno quadrado, com a cabeça martelando as mesmas dúvidas de antes. Um pouco mais felizes, por conta das horas anteriores – que, afinal de contas, foram ótimas!

[A trilha sonora do papo + o título do texto foram descobertos graças à amiga Lelê, que me hipnotiza, de tempos em tempos insere músicas em minha mente, de modo que não saiam tão cedo.]

[O arquivo veio do amigo fontecerta, que envia músicas boas e oportunas, sempre.]

[Revisão de texto: Luciano Rosa. Muitagradicida.]


Até quando esperar_Plebe Rude

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Está na hora de apagar a velinha...



Meu gigante tem olhos verdes e um cabelão, esvoaçante.

De sorrisão rasgado, roupas estampadas que, combinando com os cabelos, ventam na cadência dos passos largos proporcionados por pernas quase do meu tamanho (o ritmo de minhas pisadas triplicam quando passeamos juntas). Meu gigante taca na minha cabeça umas músicas com partes difíceis de esquecer. Daquelas que a gente fica cantando o mesmo verso por dias seguidos.

Meu gigante interior. Assim foi escalada Dusbalça, Dúsbal, Balceiro, ou apenas Lelê.

Lelê é linda e faz aniversário e eu adoro aniversários, gosto de ver as pessoas que eu amo ganhando presentes, abraços. Gosto de ver meus amigos sorrindo e amanhã é dia de Lelê e por isso pensei bastante num presente bom pras duas: bom de dar e de ganhar.


Não vejo a hora de abraçar essa moça que não presta (ela não é do bem, ok?), de brindar com choppinhos no Monteiro, no Antiga, com pastel, com cantoria. Com os amigos todos. Com amor de verdade saindo pelas orelhas, pelas mãos, pelas baforadas dos cigarros, pelas confissões de bêbado. Pelo prato do dia. Pela Lelê, meu gigantão interior, esvoaçante, linda, olhão verde e sorriso rasgado.

Parabéns, amigona! Loiviul total!!!

Livre-arbítrio hormonal.

Meus hormônios estão zonzos. A menstruação já tá aqui faz tempo e a rabugice persevera. A cólica está como se nada tivesse acontecido e os peitos... porra, eu posso jurar que meus peitos vão sair da blusa e invadir a cidade, atirando em todos os transeuntes. Tudo dói e é frágil.

Hormônios perdidos ao deus dará.

Se alguém encontrar, por favor, mande-os de volta para mim.

nem tão estranho assim.

Ninguém explicou como seria. Ninguém ao menos avisou que aconteceria. Eu, normalmente, duvidaria.

E sem explicação, sem avisos ou dúvidas, o mundo virou de lado. Virou, espelhou, deu cambalhota, mordeu a própria orelha. O mundo que era um agora é outro, mudou de cor, de fuso, de lógica. O toque se fez novo, o cheiro passou a ser hipótese, o calor agora era um só: o outro vinha de um jeito que não dá pra explicar, nem em blog. Os caminhos passaram a ser engraçados, as novidades não faziam tanto sentido e a língua que eu falava ficou estrangeira.

Era como chegar a algum lugar bem desconhecido e se sentir à vontade: não tinham vergonhas ou referências, eram apenas beijos, sonhos, delícias, sorvetes. Sabe aquela vontade de mudar para o Japão, quando tudo vira enfadonho? Então! Fiz a mudança pro Japão de mim, posso afirmar, agora. Mudei de planos, dei meia volta, refiz o retorno e passei pela mesma guarita.

Alguns encontros fazem pensar, outros machucam, outros nem chegam a acontecer e mudam nossas vidas. Foram algumas horas para entender, engolir, suportar.

Precisei de algum tempo - e quem não precisaria? - para absorver esse susto, essa ebulição, essa liberdade de solteira, de moça, de namorada, de amante, de vontade. De ser o que se bebe, o que se come, de ser uma flor, ou uma lajota (caso eu queira descansar meio marrom). Eu posso escolher algumas coisas para que as que não dependem de mim fiquem mais legais ou encaminhadas.

Ou que pelo menos sejam apenas as coisas que não dependem de mim.

Vontade de sair voando.
Impressão de que é possível.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

de 4 (atos).

Inexplicável.

Em palavras, gestos, sons, expressões, interpretações equivocadas, sonhos e suposições, construíra uma verdadeira história de amor em seus pensamentos. Uma história inventada, fantasiada, ilusória. E tão real que poderia descrever o gosto. O cheiro, o toque. Pensava se não estava maluca e, sim, tinha certeza de que estava. Nunca foi tão maluca e tão sensata, certa do que pensava e sentia. Tinha dúvidas e medos, queria previsões certeiras, planos escritos, resultados futuros. Era impossível, e tentava continuar pelo caminho que começara a ser traçado.

Sentia-o em cima, dentro, passando por ela. Sentia a língua babando seu corpo, suas mãos apertando, nariz respirando em suas coxas. Via fantasias realizadas, tudo era possível àquela impossibilidade, àquela distância, àquela quase mentira. A tão verdade que ali rondava, transitando por rodovias terrestres e aéreas, oscilava. Testava sua inteligência e autoconhecimento.

Incompreensível.

Penava. Precisava. Questão de salubridade. Agia como se não existissem limites, amarras, vidas reais. Dava seu jeito no ônibus, em casa, no trabalho, com os amigos. Olhava em volta e tinha o lado azul, quase seguro, das histórias de infância, da saudade que sentia, de sorrir para o olho fechando.

Ela era um sorriso, ele disse. Talvez por isso ela tenha chorado esse dia. De alegria, de saudade. Um choro pela crueldade que a situação vinha impondo, alimentando, evoluindo.

Necessário.

Não sabia mais fugir. Nem queria, e essa era a parte onde o querer estava à vontade: no persistir. Precisava continuar a tocar o corpo, ainda que por meio de uma louca exposição de desejos, de liberdades. Era uma história diferente, um apelo ao seu mais profundo compartimento. E ela vinha cedendo.

Hecatombe.

Ele tinha toda razão. Talvez essa fosse uma das poucas definições possíveis para ela, no momento.