terça-feira, 28 de abril de 2009

Hospital São Lucas: diversão garantida! ou O mundo é um circo!

Em decorrência da última de uma série de zicas que vêm me perseguindo desde o início deste ano, acabei posando no Hospital São Lucas, com muita dor abdominal, febre e moleza.

É impressionante como a estrutura de saúde com a qual a gente "conta" deixa a desejar. Mas o circo estava armado, independente disso.

Uma mulher loira, lá pelos seus sessenta anos, com uma roupa rosa bebê e um laço de veludo nos cabelos um tanto desgrenhados andava de um lado para o outro até sentar ao meu lado bradava: que frio faz aqui, não é? Detesto isso: com qual objetivo uma pessoa olha para o alto, fala como se estivesse apenas pensando alto e pede uma confirmação final, praticamente forçando o outro - que nunca o viu na vida - a participar de uma conversa que muito possivelmente não lhe é convidativa. Fingi que não ouvi, mas a senhora não parecia ligar para isso e continou dizendo que tinha uma doença não sei das quantas e que agora eles iam ver o motivo, já que se tratava de um mal de fumantes e ela tinha horror a cigarro. Levantei-me da cadeirinha e fui para outra fileira, de frente para a TV.

Ora bolas!

Alguns longos minutos depois, minha senha foi chamada. Na verdade, ela já havia sido chamada antes, mas a indicação do guichê 1 no painel eletrônico me fez pensar que o número chamado era o 1078 e não que o 078 poderia se dirigir ao guichê 1. Expliquei ao moço a confusão e lá fui eu.

Logo na entrada do consultório, a médica começou o freak show - que mal sabia eu, estava apenas começando: Que esmalte lindo, que cor é essa hein? Vou anotar. Desculpa, eu sei que você está doente, mas eu sou viciada em esmalte. Pegou o receituário e anotou: vitral risqué. Depois de dissertar sobre esmaltes, iniciou a consulta e me encaminhou ao laboratório, para receber a medicação e coletar sangue e urina para os exames.

- Pode sentar ali, Carolina.

E não é que o "ali" era ao lado da senhora de rosa-bebê antitabagista com doença de fumante? Bicho, a mulher gritava e chorava quando tiravam o sangue dela, e batia o pé no chão, e gritava meu deus o que é isso! e eu imagino ter caprichado no meu semblante de pavor quando perguntei à médica se eu realmente tinha de sentar ali, pois ela respondeu na hora que sim, eu podia ir para o outro lado.

Daí começou a luta das mocinhas para encontrarem a minha veia para tirar o sangue e deixar o remédio caindo, que acaba me deixando com marcas roxinhas pelo braço, mas com a qual que, de certa forma, já me acostumei. Até que o moço me chamou para fazermos o raio-x e, no que eu levantei, ele abriu a cadeira de rodas para mim. Eu realmente preciso usar essa cadeira de rodas? Ué, você não quer ir de cadeira de rodas? Você pode ir de cadeira de rodas para o raio x. Não, moço, peloamordedeus, prefiro ir andando.

O moço do raio-x pediu que eu tirasse o sutiã para o exame e eu fui para o banheirinho. Tirei o sutiã e deixei dobradinho em cima da caixa do vaso e fui rumo às chapas hightechs que me viraram de um lado para o outro por alguns minutos. Enquanto isso, entraram algumas pessoas do hospital, foram ao banheiro e saíram rapidamente. Numa dessas, um moço embrulhou meu sutiã e ia levando embora, achando que fosse da amiga que tinha acabado de trocar de roupa, mas perguntou se eu tinha deixado alguma coisa no banheiro, quando viu meu olho rabudo para o embrulho branco. Resgatei meu sutiã embrulhado em papel de enxugar mão e voltei para o andar de baixo.

Sentadinha esperando chegar alguém que acertasse a minha veia, vi a mulher-loira-rosabebê-quenãofumamastemdoençadefumante-quegritanoexamedesangue deixando louca a mediquinha viciada em esmalte:

- Dona Fulana, o seu caso não é para internação. A senhora pode tratar isso em casa.

- Até parece que eu vou conseguir me tratar em casa! E eu lá consigo ficar quieta em casa?

- Então a senhora não vai melhorar nunca.

- Essa doença pode matar?

- Olha. Todas as doenças podem matar. Hipertensão também mata. O que não significa que todos os hipertensos morrerão disso.

- Ai meu deus, pode matar? (chorando) Eu sou hipertensa, inclusive, minha pressão deve estar altíssima, você pode ver se está muito alta?

- Gabriel! Por favor, você tira pressão dessa senhora? Pode sentar ali que ele já vai ver para a senhora.

Aimeudeus. O "ali" de novo. O "ali" paralelo a um dedo apontando para a mesma direção de onde estavam as cadeiras do meu ladinho. Lá veio ela.

- Até parece... ficar em casa... poissim. Não vou fazer nada disso. Sabe quando eu vou me tratar? NUNCA! Pelo menos... quem manda lá sou eu. Acho que vou ter que chamar a minha mãe... esse idiota não vem... é, vou ter que chamar a minha mãe.

Eu neeeeeeem olhava a mulher. Queria só prestar atenção em cada palavra para poder escrever sobre isso depois sem ter trabalho de inventar. Até que chegou um mocinho inexpressivo, meio cabelo chitão e xorô, bermudinha, tênis e sentou ao lado dela que continuava dizendo que ia chamar a mãe. Até que ele entrou na onda, iniciando o que seria o auge do freak show que me pegou assim, de surpresa.

- A sua mãe está ali fora? Quer que eu chame?

- A minha mãe? Que nada! Tá bem longe ela, até parece que ela viria aqui comigo, minha mãe é uma peste!

- Você não se dá bem com a sua mãe? Eu também não me dou com a minha... ela não gosta de mim e agora eu ainda estou morando com ela.

- Eu não moro mais com a minha. Ela até paga meu plano de saúde, mas é uma peste. A sua mãe não gosta de você?

- Ela não gosta dos filhos, gosta de todo mundo de fora, menos dos filhos. Só teve filho pra infernizar a vida deles, sabe? Me deixou até com insônia,imagina!

- Ai, igual à minha... mas a minha só não gosta de mim.

(sim, eu estava rindo por dentro, me segurando para não pegar o celular e apertar o rec)

Nisso, a enfermeira chegou e falou com o mocinho:

- Senhor fulano, eu vou aplicar esses dois remédios, mas preste atenção: assim que eu aplicar, o senhor deve sair correndo para a casa, pois são remédios fortes. Corre o risco de o senhor cair aqui dormindo.

- Ai, doutora, não tem problema! Se a senhora conseguir me fazer dormir, já tenho motivos para agradecer a vida toda.

A enfermeira saiu sem responder e a loucaderosabebê-doentedefumantesemserfumante-quechoranoexame-querserinternada-eamãenãogostadela recomeçou, perguntando:

- Por que você não toma lexotan?

- Não me dou bem com lexotan...

- Eu tomo um dienpax de 10 e passo a noite em claro! Você quer que eu te leve em casa de carro?

- Não, muito obrigado, mas eu moro aqui em frente. Mas não me dou bem com esses remédios... nem rivotril.

- Rivotril tira o sono! (aqui entra aquele smile de olhos arregalados e boca reta, para representar a minha reação)

Senhor fulano foi tomar o remédio, senhora fulana não estava com a pressão alta. Os dois foram embora, finalizando o festival de aberrações da noite.

Ah sim. Fui medicada, os exames estavam todos normais, o médico disse que, provavelmente, foi algo que eu comi.

*Eu até sou uma pessoa criativa, mas não precisei inventar N-A-D-A para esse post. Ok, Luciano?

segunda-feira, 27 de abril de 2009

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Tudo tem seu preço

Tô vendendo a mandíbula.
Quem comprar, leva um par de pé.

A mandíbula tá quase zerada, canal tratado e as próximas intervenções já esão pagas.

O pé tá ardido na sola, dolorido e dormente no dedão, mas tá com um esmalte violeta lin-do.

Ári bába

Os indianos antenadíssimos de Glória Perez não me cheiram bem.

Super conectados, vivem batendo papo pela internet, atualizam blogue, conversam por webcam, adotam o e-commerce na empresa, viajam para o Brasil duas vezes por semana e se chocam ao ver uma mulher de biquini ou ao receber videozinhos do desfile da Daspu.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Tem dias que a gente se sente...

Ânimo desaparecido, ligue para o Disque Denúncia caso tenham alguma pista. 

Sabe quando a preguiça bate até na hora de beber água, mas aí é bom porque já minimiza a necessidade de se fazer xixi? 

Bicho, parece que tem uma bigorna de 2 toneladas no meu cóccix que não me deixa levantar para nada. Nada. Nada. Nada... 

Aí o blogue bomba, porque dá a sensação de estar fazendo alguma coisa, batendo papo, coisa de maluca mesmo, uma maneira legitimada de se falar sozinho ao mesmo tempo que conta para os outros. 


terça-feira, 21 de abril de 2009

Follow me

Fiz um negócio desses, do Twitter. Vai entender o motivo pelo qual alguém se cadastra num troço para seguir pessoas e ser seguida. Carência pura. Aí você vai lá e escreve coisas aleatórias para ser lido por seus seguidores e lê as coisas aleatórias dos seus seguidos. Genial, não? Eu não sabia o que era Twitter e hoje descobri, abri, cadastrei, "loguei", postei a primeira frase, mudei layout, aquela pataquada toda.

Luiza me deu a dica do Twitter dos Malvados, do Andre Dahmer, e tem realmente boas frases, tipo "São Paulo é para casar, o Rio é para foder" ou "eu só quero um cu para mijar dentro", ou "Tudo é passageiro, menos as concessões de transporte público. Nos resta ir à merda a pé".

Fiz um Twitter pra seguir os Malvados.

Enquanto isso, vou indo à merda a pé, com o cu todo mijado, para quem sabe, chegar em São Paulo.

Para o caso de te alguém twittermente mais atrasado que eu: http://twitter.com

"Porque eu já tô de saco cheio!"

Eu sei que pode parecer heresia. Mas tô com raiva do Chico. É, do Buarque e se ele aparecesse aqui agora na minha frente, eu lhe diria umas poucas e boas. Tudo pela letra da música que acabou me batizando.

Se eu tiver filhos, só vou me inspirar com axé music e frevo.

Vontade de falar palavrão

putaquiupariumerdacaralhobucetapirocamerdadenovo cucuenormecufedorentocaralhabuçanhafodaseputaquiupariudenovo manucuvaitomarnoolhodoseucu
vaitomarnomeiodoolhodoseucuenormefedorento.

merda.

música

One Love



One Love!
One Heart!
Let's get together and feel all right.
Hear the children cryin'
(One Love!);
Hear the children cryin'
(One Heart!),
Sayin': give thanks and praise
to the Lord and I will feel all right;
Sayin': let's get together
and feel all right.
Wo wo-wo wo-wo!

Let them all pass all their dirty
remarks (One Love!);
There is one question
I'd really love to ask (One Heart!):
Is there a place for the hopeless sinner,
Who has hurt all mankind just
to save his own beliefs?

One Love! What about the one heart?
One Heart!
What about?
Let's get together and feel all right
As it was in the beginning
(One Love!);
So shall it be in the end
(One Heart!),
All right!
Give thanks and praise to the Lord
and I will feel all right;
Let's get together
and feel all right.
One more thing!

Let's get together to fight
this Holy Armagiddyon (One Love!),
So when the Man comes there will be no,
no doom (One Song!).
Have pity on those whose
chances grows t'inner;
There ain't no hiding place
from the Father of Creation.

Sayin': One Love!
What about the One Heart?
(One Heart!)
What about the?
Let's get together and feel all right.
I'm pleadin' to mankind!
(One Love!);
Oh, Lord!
(One Heart)
Wo-ooh!

Give thanks and praise to the Lord
and I will feel all right;
Let's get together and feel all right.
Give thanks and praise to the Lord
and I will feel all right;
Let's get together and feel all right.

(http://www.playingforchange.com)

Playing for a change

Stand by me



When the night has come
And the land is dark
And the moon is the only light we'll see
No I won't be afraid, no I won't be afraid
Just as long as you stand, stand by me

And darling, darling stand by me, oh now now
Stand by me
Stand by me, stand by me

If the sky that we look upon
Should tumble and fall
And the mountains should crumble to the sea
I won't cry, I won't cry, no I won't shed a tear
Just as long as you stand, stand by me

And darlin', darlin', stand by me, oh stand by me
Stand by me, stand by me, stand by me-e, yeah

Whenever you're in trouble won't you stand by me,
Oh now now stand by me
Oh stand by me, stand by me, stand by me

Darlin', darlin', stand by me-e, stand by me
Oh stand by me, stand by me, stand by me.

(http://www.playingforchange.com)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Cada qual no seu mundinho

Não daria para entender e ele sabia disso. Ela também e talvez por isso, eles não parassem de se olhar, como se pudessem ler os pensamentos um do outro. E que bom que não podiam, pois sabiam que nada seria entendido - o que já não era.

Ela tentava, inutil e incessantemente, mudar o que sentia e que acabava levando-a a agir de um jeito incompreensível. Mas toda quinta-feira era igual quando pegava o celular e enviava uma mensagem de texto para ele, que respondia prontamente aceitando o convite para jantar ou ir ao cinema ou qualquer outra desculpa para que acabassem entrelaçados em algum motel da cidade. Gostava daquele cheiro sem perfume que ele tinha, gostava de sentir as pernas dele pesando nas delas, empurrando as cochas e o abdomen para frente e para trás, outras vezes para cima e para baixo. Sabia que gostava disso e de quando isso se repetia. Sonhava com isso e chorava de saudade, quando faltava. E faltava sempre, entre um encontro e outro - semanas viravam séculos e um mês parecia eternidade de conto de fadas, sem a parte do viveram felizes para sempre.

Ele curtia, apenas, aquilo tudo, aquela pessoa ligando, conversando, abraçando. Gostava das piadas, dos tropeços da moça, das músicas que ela costumava compor e mostrar para ele, antes mesmo de passar pelo crivo da banda. Muitas vezes, os encontros doíam no bolso, pois ele preferia manter a tradição de se responsabilizar pelas contas de bares, cinemas, jantares e, claro, a do motel. Mas acabava valendo a pena, pois ele gostava das esporádicas companhias e noites que ela lhe proporcionava. Sempre ficava surpreso quando seu telefone apitava com os sms's convidando-o para alguma programação na sexta-feira. Gostava assim, sem compromisso, sem muita pergunta, era boa aquela dinâmica que o deixava livre entre uma diversão e outra com uma mulher bonita, inteligente e boa de cama como ela. Desde seu último relacionamento, a idéia de ter alguém com quem dividir a vida não lhe parecia muito tentadora. E sabia que essa tranquilidade poderia trazer problemas em algum momento - via como ela o olhava e de alguma forma, sabia que ela queria mais.

E assim eles seguiam, cada um com seu mundinho, se esbarrando aqui e ali, numa espécie de fingimento inocente, de que estavam levando com muita tranquilidade o que tinham, o funcionamento despojado dos encontros. Como se cada um estivesse ciente da responsabilidade que tinham sobre si, em relação ao mundinho que acordava alguns sábados ao seu lado.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Pra não saber.

Ele nunca soube o que a Carmem sentiu quando descobriu que, no fundo da sacola, além do que havia sido combinado de entregar, tinham outras coisas que ela preferia não ter recebido de volta.

Ela também preferiu não contar que, quando começou a seguir o seu caminho, sabia que o celular tocaria. De algum modo, sabia e foi desse modo que pegou o telefone na bolsa para checar e, um segundo depois, na sua mão, o aparelho vibrou. O aperto não passou, mas sim, ela tinha tempo para um café.

domingo, 5 de abril de 2009

Só está faltando a Dona Beija

Eles se separaram e quem saiu de casa foi ela. Ele ficou com o casal de filhos - a mais velha e o recém-não-mais-bebê.

As pessoas estão chocadas: Como uma mãe larga, assim, os filhos sozinhos?

Aí eu respondo: Não, ela não largou.Todas as quartas-feiras ela busca o casal na escola e em casa e, de quinze em quinze dias, os pequenos passam o fim de semana inteiro com ela: se divertem, tomam sorvete, brincam, vão ao teatro e ao cinema. E os dois não estão sozinhos... estão com o pai.

Os fulanos não entendem: Ah, mas ela é mãe... é crueldade deixar as crianças assim.

Eu tento explicar de novo: Não, ela não deixou... eles só se separaram.

Equivocados, continuam a argumentar: Mas é mãe. É instintivo.

Ainda com uma nesga de esperança na humanidade, esboço mais uma tentativa: Não, não é instintivo. É só uma convenção.

A humanidade insiste em me desapontar: Não... mãe é mãe. Tá dentro.

Só para ter certeza de que realmente estou ouvindo o que parece ser, lanço a pergunta final: O pai pode ir e deixar os pequenos com a mãe?

Os fulanos dão a resposta derradeira: Ah, o pai pode.

Aí eu penso que já deveria ter desistido dessa conversa na linha "As pessoas estão chocadas"*.

Levanto e olho pela janela, para ver se me depararei com carruagens, homens bigodudos, mulheres de vestidos armados, Dom Pedro desfilando e escravos levando chibatadas num tronco - chibatadas legitimadas pela mesma "biologia" que justifica esse instinto materno ma-ra-vi-lho-so e con-ve-ni-en-tís-si-mo.

*Preciso parar com essa mania de só reparar o lugar onde precisava ter cortado a conversa, muitas linhas depois.