quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Direto do túnel do tempo.

Uma vez, meu irmão era bem pequeno - uns três aninhos, coisa assim - e minha mãe foi buscá-lo na escola. Todas as crianças saíam e nada do pequeno Fred aparecer. Depois que não tinha mais criança nenhuma para sair, minha mãe olhou lá dentro e meu irmão - que ainda não era irmão de ninguém, pois ela ainda estava grávida de mim - estava sentado numa cadeirinha, sem roupa, um tanto quanto encolhido e assustado.

Obviamente assustada, D. Rose entrou na escola, pegou a criança e foi saber com a professora o que tinha acontecido e ela explicou: Ele teve uma diarréia e fez cocô na calça. Ao ser questionada sobre o motivo que teria impulsionado o fato de a moça ignorar completamente a muda de roupa limpa que ele levava todo dia na mochila, a moça não conseguiu disfarçar que a resposta era simples: nojo. Ela teve nojo de limpar o menino e trocar sua roupa.

Mami pegou o Fred no colo, ligou para o papi e tiraram rapidamente o então pequeno Fred da escola.

Depois de pesquisarem bastante, visitar outras escolas, encontraram uma que parecia ser muito bacana e confiaram a ponto de matricular o mini-menino por lá.

Chegou então o dia de levar o Frederico para conhecer seu novo ambiente e ele tinha todos os motivos do mundo para desconfiar de tudo.

Foi aí que, chegando lá, minha mãe mostrou a varanda e o apresentou à professora:

Fred, essa é a Elaine, sua nova professora!

Elaine abriu um sorrisão para o Fred e disse:

Oi, Fred!

Foi aí que o Fred olhou bem pra ela, abaixou as calças e fez um cocozão ali, no meio da varanda. E olhou de novo para a Elaine, bem sério.

E antes que D. Rose pudesse pensar em ficar sem graça, a nova professora mostrou que ali poderia ser o lugar dele.

Opa, fez cocô! Vamos lá pra eu te limpar?

Frederico, desconfiado, olhou pra ela e perguntou se ela ia realmente limpá-lo.

Claro que vou!

Aí o Fred deu a mão para a Elaine e ficou a manhã toda na escola. Nem precisou de período de adaptação.

*

Quantas vezes na vida a gente pode ter três anos de idade depois que se tem 28?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Loraça Belzebu

Agora, de mechas loiríssimas, andando pela rua, correndo na Lagoa ou parada no ponto de ônibus, não tem pra ninguém: todos os trabalhadores param para mexer comigo. Na Lagoa então, paro o trânsito nas casinhas dos pescadores.

E eu achando que o lance fosse a bunda. Não é que a cabeça conta de verdade, minha gente?

Fatias

Buscou lá no fundo uma excalamação que tomasse o lugar daquele monte de perguntas que tumultuavam a sua mente. Rasgou algumas cartas antigas que já não diziam mais nada e deu algumas roupas que não lhe serviam.

[FLASHBACK]
...primeiro e último dia, roupas todas no chão, tapa na alma para depois guardar como se estivesse tudo arrumado, em ordem...
[FIM DO FLASHBACK]

Mexia os dedos do pé, antes de abrir os olhos e fitar o homem que dormia ao seu lado - ele dobrava a boca num modo único e engraçado. Lindo, também. Abrir os olhos para a vida que, há muito, lhe jogava enigmas dignos da esfinge, parecia uma brincadeira de mal gosto a qual era obrigada a se submeter. Mas precisava se orgulhar disso, também. Olhou para o lado e sorriu lá dentro, com todo o corpo, por estar ali. Só por isso. Tentar dormir novamente seria inútil agora e ela sabia disso. O melhor seria ler seu livro lá fora, se a porta não estivesse trancada.

[FLASHBACK]
No karaokê do restaurante furreca da Buenos Aires, o home de roupa social expulsava suas inquietações cantando Elvis, em alto e bom som.
[FIM DO FLASHBACK]

Lembrou da alegria de sua sobrinha, quando descobriu que é possível comprar uma torta inteira: pode ser sem ser só fatia, mãe??? - Como podem ser tão incríveis para uns, aquilo que esbanja obviedade para outros?

Na sala de jantar, o barulho era constragedor e as mulheres não entendiam o que a anfitriã tentava dizer. Horrores da comunicação, balbuciou seu cunhado, que sempre estava nos eventos sociais, ainda que a contragosto.

Tomou um comprimido enquanto fumava, já na cama, o último cigarro do dia. A cabeça estava explodindo e amanhã estava cheio de céu e chão para ela respirar.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Pra não dizer que não falei em flores.

É como se duas mãos do Hulk estivessem, uma de cada lado do coração, pressionando-o tal qual a uma espinha enorme, um caroço que pudesse ser espremido com as costas da mão.

Aí eu fico com ele comprimido, pequeno, doído, sem ar e viro criança, e sumo, surto, na ânsia de voltar ao antes. Mas o antes já se explica por si só: ele não volta nem se você se retorcer.

(Ainda que fosse possível a gente se virar do avesso, ainda assim, o antes não voltaria por isso.)

Enquanto isso, tudo continua derramado pelo chão e de tempos em tempos, a mão fica cheia e catar tudo fica impossível, porque o resto vai saindo por entre os dedos. E o coração lá, apertadinho, como um furúnculo inflamado, do qual se tenta arrancar o carnegão.

(E dói igual, que até eu que nunca tive um furúnculo, sei que dói igual, porque lembro dos olhos da minha vizinha enquanto a minha vó, junto com a dela, expremiam sua coxa para expelir aquilo que parecia ser uma espinha de ponta preta. Ela tentava me explicar a dor e eu falava que entendia mesmo sem ela falar, porque aquele olho só podia ser de alguém com muita dor.)

É uma pergunta sem fim, sem resposta, cheia de erros e senões que sai do corpo que nem coca-cola que sai pelo nariz quando a gente tenta segurar o engasgo na boca.

Bom dia...

Hoje eu andei de caiaque na Lagoa.

Que lindo, gente, que coisa gostosa de se fazer uma manhã... estou até agora com a imagem do sol batendo na água e aquela paisagem em círculo me abraçando sem nem me ver, sem nem mudar com a minha presença. Logo eu, que sempre emitia a mesma reação ao ver alguém remando lá no meio, me opondo à iniciativa de quem quer que resolvesse correr o risco de se molhar naquela água, fosse virando o barco ou levando respingos d’água. Foi bom desligar e sentir como se o mundo inteiro fosse um barquinho e um mar – porque aí eu já estava me sentindo num oceanão, sem professor no banquinho atrás, sem ciclovia em volta – e no barquinho, só deus e eu, pensando na vida, resolvendo as minhas pendengas...

Sem contar com o exercício que é pra lá de gostoso, mesmo contando com o momento em que meu braço ficou “bobo”, sem me pertencer mais. Mas eu acho que ele também se entregou, pois remou direitinho, durante todo o trajeto.

***

Que bom que eu mudei e subi naquele caiaque, que a vontade de “ir lá ver qual é” foi maior do que “e se cair?”; “e se virar?”; “e se doer o braço?”...

Ainda bem que a gente cresce, revê, reconsidera os preconceitos e os pontos de vista e se dá a chance de começar um dia de bem consigo mesma.

domingo, 26 de outubro de 2008

Eeeeeeek!!!!

Post a esmo.

Pela primeira vez eu sentia algumas coisas e sentir coisas pela primeira vez costuma ser uma senhora duma primeira vez.

Tem primeiro beijo, primeira transa, primeira menstruação, primeiro dia de aula, primeiro dia de trabalho novo, tem primeiro último, primeiro segundo, e tem primeira sensação de morte, primeira vontade de ficar junto diferente, e alguns desses primeiros têm me perseguido de maneira intensa esses últimos anos.

A tendência é eu acabar me sentindo meio idiota, meio "corpo-grande-em-cabeça-pequena", mas a verdade é que eu acabei vivendo algumas coisas já meio depois do entardecer, se é que vocês me entendem.

As primeiras sensações de liberdade me vieram com alguns anos a mais e elas eram tão bobas que muitas vezes me envergonhava quando era flagrada dando alguma bandeira de felicidade por poder estar tão obviamente solta em alguma situação banal.

(No filme invasões bárbaras, a moça fala da sensação da heroína e da importância da primeira vez, que é atrás dessa sensação que vem as segundas e terceitas vezes, ainda que em vão. )

Oração

"... alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não siginica a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém."

Lori, em Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Amar horário de verão: Motivo 1*

Meu amor pelo dia é relativamente recente porque antes eu era da noite. Varava madrugada adentro no computador, ouvindo música, lendo, escrevendo, bebendo, namorando, tomando chopp. Aí eu descobri que caminhar de manhã cedo é bom demais, o que demandou trazer o sono para algumas horas antes. Radicalizei, então, o que me fez, por vezes, dormir às oito e meia da noite para poder acordar cada vez mais cedo, até que não tinha mais como ser "mais cedo" - trocar o dia pela noite não é legal. Tampouco seria o inverso. Aí eu ficava numa espécie de gangorra na tentativa de descobrir a hora ideal de dormir e de acordar, mas desisti: acho que tem dias que são da noite e tem dias que são do dia. Prefiro viver assim, eu acho.

A verdade é que o dia me dá ânimo e quando saio de casa de manhã, eu sempre penso que vai dar. Seja lá o que for, vai dar. Fico assim até a hora em que eu olho pela janela e vejo que o dia está escuro, quando eu penso Xi, não deu...


Agora tem mais dia lá fora, olhando daqui pela janela eu penso durante mais segundos que vai dar. Ó, eu tô pensando isso, esse exato momento.

Aliás, como disse a moça, o foco é esse!

*Motivo 1 não quer dizer que farei uma série sobre horário de verão - ainda que eu tenha criado um marcador - nem que esse seja o maior motivo de todos, por mais que eu tenha a impressão de que os outros motivos sejam apenas conseqüência desse.

.desabafo, ainda que pela metade.

Na veia!
Pena não poder desenvolver o assunto.
Chamem-me para um chopp; eu só falo sem registros.

=)

Porque hoje está um dia lindo.

Verei, verás, veremos, verão.
Primavera, outono, inverno...

Ver, veres, visto, verdes.
Amarelos, vermelhos, azuis...

(E às sete da noite ainda tem sol.)

A Carta do dia

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

The (my) Secret(s).

Beijo bom na nuca, orquídea na portaria, Oito e meio em química, moça careca na porta do banheiro, larica em Ilha Grande, Poção em Maromba, coragem pro escorrega. Bilhetinho no reveillon, 60 reais em cerveja no Tito, fusca azul em Praia Seca, e-mails anônimos prum professor. Cabelo enrolado no travesseiro, sarongue na caixa bonita, presente de fã, Espanha, professora Julia, Motel Vitória Régia, Sushi do manekineko. Recife com Lipe, Recife com Nanda, Recife com Porto de Galinhas, carnaval em Recife. Recife em novembro. Linha de chegada da São Silvestre, cabelo todo descolorido, capoeira descalça. Ano novo em Praga, conhecer a Jamaica, show da Maddonna, aumento de salário. Meu primeiro milhão, um apartamento só meu, um apartamento só nosso. Cassia Eller nos ouvidos, Lenine na rede, Ney Matogrosso no sangue. Orgasmo em pé, orgasmo deitada, orgasmo de quatro. Chopp com Mumu, chopp com Guilherme, Forró com Eva e Lis. A palavra 'aprovada' ao lado do meu nome, na lista. No colo da Déa, no colo da Rose, no colo do Rogerio, no Maraca com o Fred. Caminhando de mão dada com Juliano. No happy hour com Carolzinha e Rê, no almoço com as meninas, no catrezoito com a Lelê. Felicidade. Na vida comigo, e com quem mais quiser vir.

Obrigada.

Reboooola, nose!

Pics by me.
Gif by Paulim.
Inércia by blogspot (porque eu juro que fora do blog, a imagem mexe).

Fulô.

Tem um mundo na cabeça, um mundo lindo com sorriso e muita música, mecânicas quânticas e escalas de Planck. Engole e ri com o olho. E abraça forte. A mão vem com tudo e pega com vontade, carinho. E roça no pescoço, nas costas, na perna. E beija de verdade. Não gosta de moedas e acho que por isso, vai largando todas pelo caminho e eu nem me importo de ir catando atrás. Gosta de tapioca, tacacá, salsa e forró e disse uma vez que merengue é uma das melhores coisas de se dançar. Lê livro no celular, mesmo com letras pequenas. Tem furinhos nas camisas e são camisas e furinhos tão lindos que nem dá pra implicar. É bom reparar e falar: tá furado, mas amassado, ah... amassado nunca. Ama cinema, de dentro e de fora. Edita, vê, lê, grava, indica, mostra. Anima meu mundo e os outros mundos também. Ama. Como ninguém, como nunca. Come. Gosta quando meu nariz rebola. Faz questão, afirma, discorda, repensa, tem lentes novas de olharmundo, lentes leves e bonitas e fotografa - com essas e com outras.

Deu medo tudo isso. De não saber rir junto, de pisar no pé na hora da salsa, de tentar costurar furinhos tão bonitos. Acabou que teve pé pisado, riso solitário e furinhos perdidos por aí.

Mas eu to pegando umas lentes novas, ou nem tão novas assim. Catando algumas que deixei no fundo da gaveta de óculos, achando que fossem desnecessárias e obsoletas. E não é que elas são úteis? Bem que eu tinha a impressão de que eram lentes preciosas. Apenas não serviram naquela hora, pois o problema era (também) com a paisagem.

E agora eu amo. A lente é essa.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Dor alheia.

Fabiana estava cansada. Ontem o dia foi difícil, trabalhar doía e a cada "bom dia" pelos corredores, o desejo era o de matar um a um com sua caneta bic.

Na hora do almoço, o chefe pediu que ela levasse o cliente que visitava a empresa àquele restaurante mais bonitinho, pois ele estaria absorto em uma videconferência em seu escritório. Fabiana sabia que era mentira: o cliente era chato, o restaurante era cheio e caro e o chefe trepava com a estagiária quando todos saíam para almoçar. Olhou para a caneta bic e em seguida, para a jugular do chefe. Melhor não, vai que eu erro..., pensou ela.

O cliente chato nem titubeou na hora da conta e deixou que ela se encarregasse da comanda dele. Fabiana passou o cartão e números vermelhos pulavam em tamanho monstro dentro de sua cabeça. Reembolso, Fabiana? Isso faz parte do seu trabalho, afinal de contas, o seu emprego depende também deste homem, não é?, respondeu o chefe, depois do pedido de reembolso da refeição de 25 reais daquele cliente gordo e mal educado. Ei, seu puto! Sua braguilha está aberta e sua calça está com um pingo, Fabiana disse por dentro. Mas só por dentro.

Ao se servir de cafezinho, o copinho de plástico escorregou de sua mão e o banho de café quente não foi para ela a pior parte do dia.

Jantar da mamãe hoje... tomaria mais dois banhos de cafezinho e levaria mais uma vez o cliente balofo para almoçar para não precisar estar em família hoje.

Fabiana é a filha solteira, feinha, meio desastrada, não muito inteligente e tinha muita acne. Ainda que soubesse de tudo isso, sua mãe insistia em repetir a cada encontro que ela precisava dar um jeito em sua vida.

Saiu do escritório e parou no salão de beleza próximo a sua casa para fazer as unhas e - por que não? - uma escova. Os números vermelhos saltaram em sua cabeça mais uma vez, só que em tamanho um pouco menor. O que é um pum, para quem já está cagada?

Sentada de frente para a manicure ela via como era bonita a mulher que fazia suas unhas. Loira, cabelos enrolados, um olho azul enorme, pele branca... Você é a cara da Nicole Kidman! Quem é Nicole Kidan? É aquela da novela das surfistas? Não, essa é a Carolina Dickman. Ah tá! Ela é linda, brigada. Fabiana achou melhor não explicar. A moça gostou, que bom. Quem sabe ela não deixa de cobrar o extra da francesinha?

Ao remover a cutícula do dedo anelar esquerdo, Nicole Dickman, a manicure, deixou que o alicate escapulisse e, num golpe rápido, mínimo e doloridíssimo, um pedacinho da pele de Fabiana foi embora, deixando uma pontinha de sangue em seu dedo. Desculpa!Sem problemas, acontece, querida. Deixa eu te perguntar: você podia ver se tem alguém livre pra fazer uma escova em mim? Tá, a senhora espera um segundinho só? Espero sim. Já volto, vou lá perguntar. --- Olha, tem não, tá todo mundo ocupado. Puxa... Ok, brigada... eu deveria ter marcado com mais antecedência. É, dia de quinta feira isso aqui fica um sufoco! Tem mulher saindo até pelo ladrão! Mas a senhora tá linda, a senhora tem um rosto muito bonito, não precisa se preocupar com o cabelo.

Aí Fabiana não aguentou. Filha da puta mentirosa, essa manicure. E chorou como nunca. Chorou em silêncio, não respondia o que tinha acontecido, ainda que a manicure perguntasse se tinha sido a dor do bife arrancado, ou a escova que ela não fez. Fabiana só conseguia chorar e seu rosto vermelho e oleoso chamava a atenção de todo o salão, ainda que ela não emitisse nenhum som. Ela tá chorando. Quem? Ela ali, ó, aquela mulher meio "maljambrada". Gente, como chora aquela mulher que tá fazendo unha ali...

Até que o assistente de um dos cabelereiros puxou seu banquinho e sentou ao lado dela, oferecendo um copo d'água. Passou o braço por suas costas e segurou seu ombro com força. Sem perguntar o que tinha acontecido, ele se ofereceu para ajudar e para conversar se ela quisesse. Ela chorou um pouco mais, pois sabia que esse teria sido a melhor parte do seu dia.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Ela, sempre ela.

Eu vou lhe dar de presente uma coisa.
É assim: borboleta é pétala que voa.

Clarice Lispector

Porque presente é bom e todo mundo gosta. Quer coisa mais leve que uma pétala voando?

*

Enviei pela Lua; espero que tenha chegado aí.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Disfunção erétil das emoções

E eu fiz essa merda giganta. E pior do que a merda feita foi a não percepção de que ela estava ali, fodendo com algo tão precioso. E não havia nada que eu pudesse fazer para reverter a situação. A resposta foi um "até logo" com uma cara de "tchau" e porra. De que me adiantou tanto esforço? Pro caralho os mal entendidos, os ruídos e as expectativas. Eu tenho raiva, eu tenho idiotices, dificuldades, traumas e feridas curtidas. Mas eu tenho amor, tenho amor saindo pelos ouvidos, pelos olhos, pela boca. E me fodi, me fodi bonito, porque eu não soube. Eu não soube como usar essa coisa toda que me transborda e agora eu to sem chance pra aprender. Quero tentar ser diferente de mim mesmo, ser pelo menos uma daquelas mil e quinhentas que cabem entre aquela que eu sou agora e a que eu quero ser. Quero voltar pro outro dia, acordar feliz e falar isso na cara. Quero aprender a cavucar lá no fundo e resolver essas pinimbas que me impedem de crescer. Enquanto isso eu vou fazendo merda e fodendo os alheios? To fora. Só preciso encontrar uma maneira de varrer toda essa merda do portão, jogar no lixo e deixar o caminhão levar pra longe.

do Ipod


Você desfoca, sai do tom
Se perde e não vê
Que a confusão começa dentro de você
Disfarça, acha graça, desmonta e sorri
Não aguenta o peso
dessa máscara que esconde...

Você!... Carrega o mundo e não vê que ser...
Feliz é viver o presente e deixar fluir...
O que sente e não se importar
Com que os outros pensam que você é...
Quem é você?

Você que é tão sensata,tão cheia de si
Sempre fazendo festa e se sentindo tão só
Você que sempre agrada e sem perceber
Insiste em seguir um caminho
Que não é...

Você!... Carrega o mundo e não vê que ser...

Sai do quarto... Passa da porta e vai...
Deixa o mundo ver...
Sai do quarto passa da porta e vai
Quem sabe você?

Entrega pro mundo e vê, que ser...
Feliz é viver o presente e deixar fluir...
O que sente e não se importar...
Com que os outros pensam
Que você é...
Quem é você...
Deixa o mundo ver...

(Você_ Chicas)

Era só chamar.

E hoje o meu Madame Satã entrou no ônibus vendendo suas canetas. Emoldurava os produtos com suas unhas perfeitas e seus dedos todos preenchidos com anéis prateados - alguns com pedras, outros sem. Hoje eu estava sentada na frente, com as estratégicas lentes escuras, próprias para os dias quentes - ou difíceis - e pude receber o seu olhar de volta, reagindo comigo por conta do efeito hipnótico que sua figura costuma me causar.

Ele descreveu cada caneta - de quatro cores, de três cores, caneta-calendário, caneta de metal, marca-texto, marca-cd... - e eu, como sempre, pensava em qual iria comprar - nunca deixo meu Madame Satã descer do ônibus sem levar comigo uma caneta de sua caixa - e ele andou para o fim do ônibus e eu não consegui chamá-lo. Ele continuou com seu texto de vendedor ambulante, eu olhei para trás e ele estava posicionado para descer no próximo ponto. Vou chamá-lo, vou chamá-lo, vou chamá-lo, vou chamá-lo! (essa era eu, tomando mais uma decisão que não iria adiante)

Não chamei, ele desceu do ônibus, agradecendo ao motorista.

Deixei meu Madame Satã ir embora, quando o que eu precisava fazer era bem simples.

Mas nem tudo que é simples é fácil de fazer; eu tenho aprendido isso, das piores maneiras possíveis.

mais um domingo

PERDOA MEU AMOR
(Casemiro Vieira)

Perdoa meu amor, perdoa
Perdoa eu bem sei que errei
Perdoa meu amor, perdoa
Perdoa se lhe magoei

A minha vida era só melancolia
Até você me aparecer um dia
Como se fosse uma rosa fugidia
Fez dos meus sonhos esta louca fantasia

Ainda sinto o seu perfume encantador
E nos meus lábios os teus beijos sedutores
Perdoa meu amor, perdoa
Perdoa se me tens amor

domingo, 12 de outubro de 2008

Di goiaba

Chovia e eu tinha saído de casa com a roupa que estava quando acordei. Como estava descalça, ia flutuando, com fortes impulsos, para não molhar o pé na calçada suja, enquanto você ia um pouco atrás de mim, tomando conta. No entanto, precisei atravessar a rua e não podia parar de flutuar e o impulso foi mais forte que os outros e eu deslizei, deitada, no chão molhado, até parar, segura, na calçada da praça e você chegou para me levantar.

Acordei e aquela sensação antiga voltou. Aquele liquidificador ligado dentro do meu estômago, a lágrima quase que instantânea, a dor do silêncio real, do mundo da vigília, que não perdoa, que não realiza desejos.

Sou uma exagerada na vida e estava aprendendo a comedir. Aprendendo a viver devagar, a usar os fones de ouvido, esperar uma coisa de cada vez e agora eu só quero uma coisa, todo o tempo, mais uma vez, como se de nada tivesse adiantado tanto exercício.

Ainda não abri a janela. Não quero descobrir que não está chovendo, porque alguma coisa, ah... alguma coisa há de ser verdade.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

porém, sem o telegrama

Eu tava triste
Tristinho!
Mais sem graça
Que a top-model magrela
Na passarela
Eu tava só
Sozinho!
Mais solitário
Que um paulistano
Que um vilão
De filme mexicano
Tava mais bobo
Que banda de rock
E um palhaço
Do circo Vostok...

Telegrama - Zeca Baleiro

domingo, 5 de outubro de 2008

verborrágica entre parêntesis

E sempre chega aquele dia de fazer alguma coisa pela primeira vez. Pensando bem, não era a primeira vez que martelava na cabeça a sensação de que sozinha era uma condição que precisava absorver. Teve a caminhada na ciclovia, estréia da sensação dos fones de ouvido, símbolo-mor daqueles que não precisam de companhia para estarem em algum lugar. Só de pensar que na bolsa estava abrigado o tal aparelho solitário e cogitara a hipótese de sacá-lo agora, nesse momento, podia ouvir o grito afirmativo da solidão que arranhava o peito, ainda que de dentro para fora.

Era sexta, era noite, aniversário. O corpo doía e o cinema já era.
*

E aquelas pias "automáticas" que só precisam que você aperte a torneira e espere a água parar de jorrar? Estão me fazendo passar vergonha quando me deparo com uma pia tradicional.

*

O bacana disso aqui é a falta de compromisso. Posso mudar de asunto e não falar sobre ontem. Às vezes eu acho que essa é a vida que me faria feliz: nunca falar sobre ontem.

*

E se eu quiser, também, falo até sobre semana passada. Porque quem manda aqui sou eu.

*

No exato momento em que ele disse pro motorista parar um pouco, pois ela só ia fazer xixi e continuaria a seguir no taxi, ela se deu conta da infinidade de mundos que devem existir por aí. Queria partir de caminhão e cuia pro mundo em que esse episódio não doesse como topada na ponta do dedão da alma.

*

teve câncer, teve enterro, teve amor, culpa, medo, recaída. teve um ano, uma vida nesses dois meses de silêncio de alma virtual. a alma palpável, por sua vez, berra cada dia mais alto.

*

Por onde eu ando, o mundo parece pequeno e infinito. Porque o fato de não acabar não torna a coisa imensa, automaticamente.

*

Enquanto esse carrossel não resolver, pelo menos reduzir a velocidade do giro, vai ser foda eu funcionar normalmente no horário comercial.

*

Ela tinha uma técnica infalível, que chamava de "hipnose de gente burra". Era maravilhosa, por sinal.

*

Aí tem aquele que pergunta se eu tenho um blog e fala: JURA QUE VOCÊ TEM UM BLOG? (e eu podia jurar que essa pergunta só é feita quando a pessoa acha muito razoável e até previsível que você tenha um blog) QUAL É O ENDEREÇO? Aí eu pergunto se tem papel e nunca têm papel e por que cargas d´água pedem endereço do blog se não têm papel para anotar? Aí eu falo (sabendo que virão me perguntar de novo, pois ninguém decora), e aviso logo que não posto nada há um tempo. Aí depois (uns dois dias depois), vem um e-mail (ou um scrap) pedindo o endereço porque digitou palavradaalma.zip.net e não era meu blog. (A parte do zip.net sempre tem grandes chances de ser culpa minha, verdade seja dita. Desconheço o motivo, mas a verdade é que eu cismo que o endereço acaba com zip.net.)

Depois o cidadão comenta que lembrou muito do filme baseado no blog, que eu podia fazer um filme também. E perguntam se eu abandonei, pois o último texto é de muito tempo atrás.
(e não foi esse o primeiro aviso que eu dei, antes de passar o endereço para o infeliz?)

E falam que eu tenho um quê de Fernanda Young.
(aí o sujeito já ganha a minha antipatia: FY é a caralha!)

Tem uma atriz também que fala igualzinho a minha escrita. E putz, teve uma professora que usava essa mesma ironia que eu.

Acontece que todo mundo é igual, no fim das contas. Tá todo mundo reclamando de grana, querendo ter mais tempo no dia, precisando abraçar a mãe. A gente xinga as mesmas pessoas, ainda somos os mesmos, fazemos careta pro colega e, quando acaba a luz, rola aquele medo de um segundo.

Tá geral investindo nas estruturas falidas, tentando acreditar no amor, fingindo que não ouviu a ofensa pra não ficar sozinho, cortando gordura pra poder comer mais açúcar porque precisa emagrecer praquele casamento.

Não tem um ileso ao desejo de jogar tudo pro alto, de correr pelado no exterior, de mandar alguém pra putaquiupariu.

*

Outro dia eu conto o que aconteceu com o terapeuta.