domingo, 5 de outubro de 2008

verborrágica entre parêntesis

E sempre chega aquele dia de fazer alguma coisa pela primeira vez. Pensando bem, não era a primeira vez que martelava na cabeça a sensação de que sozinha era uma condição que precisava absorver. Teve a caminhada na ciclovia, estréia da sensação dos fones de ouvido, símbolo-mor daqueles que não precisam de companhia para estarem em algum lugar. Só de pensar que na bolsa estava abrigado o tal aparelho solitário e cogitara a hipótese de sacá-lo agora, nesse momento, podia ouvir o grito afirmativo da solidão que arranhava o peito, ainda que de dentro para fora.

Era sexta, era noite, aniversário. O corpo doía e o cinema já era.
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E aquelas pias "automáticas" que só precisam que você aperte a torneira e espere a água parar de jorrar? Estão me fazendo passar vergonha quando me deparo com uma pia tradicional.

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O bacana disso aqui é a falta de compromisso. Posso mudar de asunto e não falar sobre ontem. Às vezes eu acho que essa é a vida que me faria feliz: nunca falar sobre ontem.

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E se eu quiser, também, falo até sobre semana passada. Porque quem manda aqui sou eu.

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No exato momento em que ele disse pro motorista parar um pouco, pois ela só ia fazer xixi e continuaria a seguir no taxi, ela se deu conta da infinidade de mundos que devem existir por aí. Queria partir de caminhão e cuia pro mundo em que esse episódio não doesse como topada na ponta do dedão da alma.

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teve câncer, teve enterro, teve amor, culpa, medo, recaída. teve um ano, uma vida nesses dois meses de silêncio de alma virtual. a alma palpável, por sua vez, berra cada dia mais alto.

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Por onde eu ando, o mundo parece pequeno e infinito. Porque o fato de não acabar não torna a coisa imensa, automaticamente.

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Enquanto esse carrossel não resolver, pelo menos reduzir a velocidade do giro, vai ser foda eu funcionar normalmente no horário comercial.

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Ela tinha uma técnica infalível, que chamava de "hipnose de gente burra". Era maravilhosa, por sinal.

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Aí tem aquele que pergunta se eu tenho um blog e fala: JURA QUE VOCÊ TEM UM BLOG? (e eu podia jurar que essa pergunta só é feita quando a pessoa acha muito razoável e até previsível que você tenha um blog) QUAL É O ENDEREÇO? Aí eu pergunto se tem papel e nunca têm papel e por que cargas d´água pedem endereço do blog se não têm papel para anotar? Aí eu falo (sabendo que virão me perguntar de novo, pois ninguém decora), e aviso logo que não posto nada há um tempo. Aí depois (uns dois dias depois), vem um e-mail (ou um scrap) pedindo o endereço porque digitou palavradaalma.zip.net e não era meu blog. (A parte do zip.net sempre tem grandes chances de ser culpa minha, verdade seja dita. Desconheço o motivo, mas a verdade é que eu cismo que o endereço acaba com zip.net.)

Depois o cidadão comenta que lembrou muito do filme baseado no blog, que eu podia fazer um filme também. E perguntam se eu abandonei, pois o último texto é de muito tempo atrás.
(e não foi esse o primeiro aviso que eu dei, antes de passar o endereço para o infeliz?)

E falam que eu tenho um quê de Fernanda Young.
(aí o sujeito já ganha a minha antipatia: FY é a caralha!)

Tem uma atriz também que fala igualzinho a minha escrita. E putz, teve uma professora que usava essa mesma ironia que eu.

Acontece que todo mundo é igual, no fim das contas. Tá todo mundo reclamando de grana, querendo ter mais tempo no dia, precisando abraçar a mãe. A gente xinga as mesmas pessoas, ainda somos os mesmos, fazemos careta pro colega e, quando acaba a luz, rola aquele medo de um segundo.

Tá geral investindo nas estruturas falidas, tentando acreditar no amor, fingindo que não ouviu a ofensa pra não ficar sozinho, cortando gordura pra poder comer mais açúcar porque precisa emagrecer praquele casamento.

Não tem um ileso ao desejo de jogar tudo pro alto, de correr pelado no exterior, de mandar alguém pra putaquiupariu.

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Outro dia eu conto o que aconteceu com o terapeuta.

4 comentários:

Unknown disse...

Amiga, quanta informação. Muita coisa bonita e outras coisas divertidas. E eu sem saber tanta coisa... Dia desses a gente põe o papo em dia, sem carioquices, espero. Beijo grande!

Letícia disse...

Preciso saber!

Letícia disse...

Adorei os asteriscos. Já me apropriei deles. Mas os coloquei em trios.

Bia Prado disse...

Ai, Carolzita, que saudade de tu!
Tudo tão lindo...
Muitos beijos