segunda-feira, 29 de outubro de 2007

À beira de.

- O tempo tá estranho, né?

- Tá mesmo! E pensar que já estamos em setembro! Há 5 minutos atrás eu estava acordando e agora já é o fim do dia!

- Na verdade, eu estava falando a respeito do céu...

- O céu, né! Belo ponto de vista! Imagina que daqui a pouco já é horário de verão e ainda estará claro às 7 da noite! E ontem mesmo eu estava acertando os relógios porque tinha acabado o horário de verão de 2006! A gente não tem mais tempo pra nada! piscaremos o olho e já será natal. Mais árvore da Lagoa, mais engarrafamentos, promoções relâmpagos, shoppings lotados, resoluções para janeiro, carnaval, semana santa... acho melhor eu começar logo a aprender crochê, porque quando eu sair hoje à noite para tomar um chopp, na volta já serei uma senhora de 80 anos! Não terá dado tempo de praticamente nada. Ainda não terei voado de asadelta, feito rafting, conhecido o Havaí. Não dá tempo porque eu tenho que acordar cedo para fazer um monte de coisas desinteressantes, preciso ganhar dinheiro, me estabilizar, encontrar o amor, essas coisas.

- É que ontem tava uma chuva...

- Pois é! Quantas chuvas eu já vi? Nem pra isso eu tenho mais disponibilidade. Disponibilidade... que palavra é essa, né? E gestão? Nossa, que vida foi essa que eu fui arrumar... um dia eu era mais nova e morava lá no Grajaú. Chovia tanto que dava medo e eu fui até a varanda - eu já tive varanda - pra ficar olhando aquela água toda cair e eu lembrava de ter achado tão bonito que até escrevi uma poesia. Agora, quando chove, eu fico praguejando que tenho que andar de guarda-chuva e eu odeio guarda-chuva. Antes eu andava sem um desses. E não ficava resfriada como agora. Agora eu gripo toda hora. Qualquer coisinha eu fico até com febre. Então eu reclamo muito quando chove, porque também, entrar no ônibus com guarda chuva é um horror. E andar de ônibus quando chove? As pessoas te olham de cara feia porque você não fecha a janela e chove dentro do ônibus. Você é obrigado, praticamente, a compactuar com a transformação do transporte público em sauna transmissora de germes. Eu não quero nem saber: deixo aberta e finjo que não vi as pessoas irritadas. Tá com stress? Eu também, veja só quanta coincidência! cansei, sabe? Realmente esse tempo tá maluco... Ontem mesmo, cara! Ontem mesmo foi há 5 minutos atrás! Como pode isso?

- ... e acho que hoje vai chover.

Prisão de mente.

O lápis anda parado no papel e os dedos não se movem no teclado, ainda que haja tanta coisa a ser dita.

Tal qual um intestino que não funciona.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Terapia da Palavra

Agora eu escrevo tudo.

Estou cansada, pego o caderno, vou lá na última página e escrevo "estou cansada".

Eu te amo? Alcanço o lápis na bancada e escrevo atrás do post it com telefone de dentista "eu te amo".

Ando assim, desabafando comigo mesma, com a Bia e com a Lelê, através das teclas, do grafite, da caneta e até do vidro embaçado do blindex, durante o banho.

Desabafei assim hoje, através do papel do maiolino, com a moça do ônibus.

entrei no onibus e pedi licença pra senhorinha que tava sentada no corredor. gosto de sentar na janela e do lado direito do ônibus, pra ver as pessoas nos outros pontos, ver a calçada. a coluna esquerda estava super vazia e quando eu pedi licença pra moça ela apontou o outro lado do ônibus, mostrando que estava vazio. falei que eu cismo com a janela da direita e ela falou então faz assim, deixa que eu saio daqui e você senta na sua janela. eu falei ok, obrigada. aí ela levantou falando super alto onde já se viu! ela cisma com a janela! passaram uns três pontos e ela ficava falando sozinha já que ela cisma, né! cismou com a janela! eu escrevi um bilhetinho pra ela e entreguei quando desci do ônibus. tava assim o bilhete: "Continue assim, expondo ao ridículo as pessoas por quem você passa. No mundo em que vivemos, pessoas intolerantes são as que ganham muito dinheiro. Torço por você e para que um dia, pare de fugir do vento".

Tá difícil?

Nunca foi tão complexo criar um perfil de um blogue.

Minha (nova) casa

Minha casa está vazia. Mesmo. Tanto que eu preciso me espremer na cama e andar grudada nas paredes. É muito vazio lá dentro. Algumas paredes estão coloridas e onde tem a cor é onde mais vazia a casa ficou. Tenho a impressão de que o arquiteto foi embora deixando o trabalho pela metade... onde eu durmo tem cor forte e é talvez o lugar mais vazio da casa. Tento arrumar a casa de modo que eu consiga chegar do trabalho e deixar as coisas no lugar, mas geralmente as pessoas que entram fazem uma grande bagunça lá dentro. Ninguém toca a campainha e sai entrando. E olha que é preciso de um esforço enorme para tornar bagunçado um espaço tão vazio. Preciso providenciar grades. O mais rápido possível.

Acho que casa precisa ter rede e travesseiro. Porque as horas de sonho são sagradas e a rede chama um coqueirinho. Ah, um coqueirinho...

Casa tem que ser nossa e precisa de gavetas. Eu tenho gavetas e armários. E caixa box. E Janelas que estejam sempre abertas, pois preciso olhar a rua e ouvir pessoas falando - geralmente estão bêbadas saindo do bar. Tem que ter vizinho bar.

A hora da faxina é a mais importante: é o momento de trocar as coisas de lugar e colocar escova de dente no armário do quarto, panela em cima da tevê e sofá ao lado da privada. Desarrumar tudo para depois etiquetar e guardar em seus devidos lugares. Arrumar a casa dá trabalho, alergia, dor no braço e dá sono. Quase durmo no meio da faxina. (Adoro essa palavra, faxina).

Tudo encaixotado? Minha casa está vazia. Pronta pra mudança.