segunda-feira, 31 de março de 2008

PS.

Palavras soltas, pedaços saindo por solavancos, pessoas separadas. Puxões, sustos parados, solenes, pontos, sinais...

Paixões solitárias: pelo sim, por sinceridade, ponha sempre ponto se parar sem propósito, para saber, poder saber...

Sonhos paralisados, sagacidade, pabulagem...

Sente??? Paciência!

Sons petrificadores, sacudidos, patuscadas, sua porta semi-podre, sem pedaços soltos.

Peço somente para se puder, sair pelo sol para ser percebido pelo sentir partido, sonífero...

Poltronas sentadas pairam sabáticas, perdidas; sentindo por sua presença, saudade.

Pacata, sinto. Para sempre.

terça-feira, 25 de março de 2008

Tô lendo


"Ele era apenas um garotão tremendamente apaixonado pela vida e, mesmo sendo um vigarista, só trapaceava porque tinha uma vontade enorme de viver e se envolver com pessoas que, de outra forma, não lhe dariam a mínima atenção. ele estava me enrolando e eu sabia (...), e ele sabia que eu sabia (essa, na verdade, seria a base do nosso relacionamento), mas eu não me importava e seguíamos juntos numa boa - sem frescuras, sem aporrinhações, andávamos saltitantes um em volta do outro, como novos amigos apaixonados."

(...)

"Eles varavam as ruas juntos absorvendo tudo com aquele jeito que tinham no começo, e que mais tarde se tornaria muito mais melancólico, perceptivo e vazio. Mas nessa época eles dançavam pelas ruas como piões frenéticos e eu me arrastava na mesma direção como tenho feito toda minha vida, sempre rastejando atrás de pessoas que me interessam, porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante - pop! - pode-se ver um brilho azul e intenso até que todos "aaaaaaah!"

segunda-feira, 24 de março de 2008

Aí eu caí II - O projeto femme.

Teve o dia que fui trabalhar de salto alto, nada de plataforma, acordei uma coisa meio femme.

Já no caminho da minha casa até o ponto de ônibus eu queria morrer pelo pé.

Como ando lixando a sola do meu pé (está ficando fininho, como de mocinha), ela ficou ardida com a força do salto.

Passou uma senhorinha cambaleando no salto e eu lembrei do Lipe falando sobre gordinhas andando de salto alto - ele diz que por mais que elas saibam andar, parece sempre que estão se equilibrando. Ainda bem que eu sou um luxo no salto.

(Por que eu não fui de plataforma mesmo? Ah, o projeto femme...)

Se passar um frescão primeiro, vou entrar, sentar lá atrás e trocar pelo tênis da academia que está na mochila. Não veio frescão; veio 438 mesmo. Putz, o 438 me faz atravessar a presidente Vargas... essa sandália está me matando. O relógio não deixa esperar vir outro. Vai ele mesmo. Sentei. Meu RioCard tinha crédito insuficiente. O trocador disse que um cartão vazio ou insuficiente paga uma passagem. Deixei o cartão com ele com a sensação de estar sendo enganada...

Dormi de boca aberta no ônibus.
Placar: id ogra 1 x projeto femme 0

Acordei no mergulhão, ufa! Um ponto antes do meu. Levantei, botei a mochila nas costas.

Fiquei em pé esperando o ônibus sair do mergulhão. Eu sempre puxo a cordinha logo depois para dar tempo do motorista parar antes do ponto original, que fica longe demais do trabalho. Eu não merecia que esse dia ele parasse no ponto de verdade.

Foi só eu levantar o braço para puxar a cordinha, o ônibus deu uma arrancada de lado (como se fosse uma curva) e eu voei no rapaz que estava sentado na janela, encaixando a cabeça dele entre meus dois peitos. Opaaaaaaa! (o rapaz) Desculpa! (eu) Ai, desculpa! (eu) Putz, foi mal... (eu) Tudo bem! (o rapaz). Não conseguia olhar em volta. Risos. (os demais passageiros)
Placar: id ogra 2 x projeto femme 0

Desci do ônibus antes do ponto, bem no lugar que eu queria e corri muito para passar rápido ao longo do veículo sem nem olhar para as janelas, mas correr poderia ser pior e pensando nisso a corridinha não durou nem 5 segundos, o que pode ter piorado a minha situação perante os passageiros sentados às janelas do ônibus.
Placar: id ogra 3 x projeto femme 0

Passei o dia sentada xingando a minha linda sandália, na volta para casa desci do ônibus em Ipanema, entrei na Letras e expressões e sentei naquele banquinho destinado ao público infantil. Abri minha mochila e avisei ao vendedor: vou trocar de sapatos aqui, ok?
Placar: id ogra 5 (isso vale 2 pontos) x projeto femme: tinha projeto femme, Carol?

O vendedor nem discutiu.

Aí, eu caí.

A Carol é do tipo de pessoa que cai. Minha mãe também é assim.

Essa sábia declaração foi da grande amiga Mumu, que, após alguns anos de convivência comigo pôde me inserir na categoria de pessoas que caem.

Praia das conchas, Cabo Frio. Semana Santa, 2008. A praia das conchas é uma daquelas praias de Cabo Frio que estão cheias de mesas e cadeiras de plástico branco na areia, com um guarda sol no meio de cada mesa. Estávamos eu e o casal Mumu & Guilherme, conversando, tomando a cervejinha merecida entre um mergulho e outro.

Aí eu caí.

Assim mesmo. Sem motivo algum; não passou uma super mariposa para me assustar, eu não estava levantando para ir a algum lugar. Eu só estava sentada. E caí. Com cadeira e tudo. Aliás, isso foi ótimo, não me desvencilhei da cadeira nenhum segundo. De repente, quando eu estava no solo, a cadeira ainda estava em mim e nela eu estava sentada, ainda que deitada na areia. Eu vi o pé do garçon que estava a menos de um palmo do meu nariz. E não quis ver mais nada. Só ouvia a voz do Guilherme falando Levanta, Kerou. e vi a mão da Mumu em minha direção para me ajudar a levantar e me guiando até a água. Eu era meia milanesa.

Comigo é assim. Estava no ônibus, aí eu caí. Fui descer do carro, aí eu caí. Fui levantar do sofá, aí eu caí.

Fui cantar no videokê aí eu caí do palco. Pois é, eu caí do palco só porque o chão acabou e quando as pessoas gritavam meu nome na tentativa de me avisarem, me fizeram acreditar que eu estava sendo ovacionada pelo meu aniversário. Aí eu caí, né; arrebentei a sandália e tudo. Fiquei roxa uns diazinhos, do mesmo jeito que fiquei no meu aniversário um ano antes, quando desci de bunda a escadaria do lugar da festa. O próximo aniversário da Kerol precisa ter uma ambulância na porta!, diz meu sábio amigo Lipe.

Porque eu sou assim. Tava ali, aí eu caí.

Esse tipo de gente que cai, sabe?

segunda-feira, 17 de março de 2008

E se fôssemos apenas bons amigos?

Bons amigos, daqueles que sentam em restaurante, praia ou bar.

Amigos que falam por horas sobre qualquer assunto, falam até a hora passar. Amigos sem nesgas de desejo, sem histórias carregadas de sentimento. Amigos, apenas.

Sem merecimentos, pedidos de desculpa, cartas brancas ou cartões vermelhos. Vizinhos que jogam cartas, que se abraçam sem que haja a barreira do corpo.

E se não houvesse conversas à meia noite e abraços na esquina? E se fôssemos apenas bons amigos?

Daqueles de faculdade, que lembram do passado e riem entre um gole e outro de cerveja ou de chopp. Se às 5 da manhã eu descesse ao seu chamado, não para saciar um vazio momentâneo – para o qual eu fosse a última opção – mas para terminar a noite entre fumaças e risos, e até abraços e ombros de apoio às pernas que se esbarram de bebedeira?

E se fôssemos felizes com a companhia do outro, desde sempre, e se fôssemos um, a companhia agradável do outro?

E se fosse simples assim? Vingaríamos?

E se nos amássemos, assim como bons amigos têm amor um pelo outro?

Vingaríamos, se fôssemos amigos?

Meu Madame Satã.

Ele entrou pela porta de saída, assim como fazem todos aqueles permitidos pelos condutores, a vender seus produtos aos passageiros de ônibus. Senhores passageiros, bom dia. Primeiramente, desculpe incomodar o silêncio de sua viagem. – teria um curso de oratória para abordagem de ambulantes de ônibus?

Geralmente são apenas voz. Uma espécie de trilha sonora para quem precisa, diariamente, tripular os coletivos cariocas – e que iria à falência se resolvesse comprar todos os produtos oferecidos de segunda à sexta. Mas isso é outro post.

Tem quem apenas peça, pois perdeu a perna e não consegue emprego. Tem também quem ofereça lápis, caneta, cortador de legumes, barras de cereais, chocolate, bala, chiclete, amendoim... e eles entram sem causar nenhum impacto; ninguém interrompe uma conversa ou tira o fone do ouvido para ouvi-los e balança a cabeça em sinal de atenção. Acho que sou a única.

Eu paro de ler, olho para eles, sorrio, dou bom dia, digo não obrigada ou me vê duas de caramelo.

E foi por isso que eu, na sexta feira fiz questão de comprar duas canetas por um real. Porque eu percebi que o vendedor tinha as mãos finas, limpas e feitas com esmalte perolado, unhas longas e cutiladas enfeitando os dedos que seguravam e apontavam com orgulho as canetas e marca textos, muito mais baratos do que nas lojas americanas e papelarias da cidade. Fui subindo o olhar e aquele cara tinha a sobrancelha mais perfeita do mundo e a pele mais feminina que eu já vi. Todo o cotidiano desse homem veio à minha cabeça e tenho certeza que faz shows em casas decadentes de Copacabana ou da Praça Mauá. Nos dias de casa fechada, o meu Madame Satã ganha a vida noturna nas calçadas da Glória ou do Lavradio. Ele tinha cara de cansado e estava certamente com pressa. Afinal de contas, era sexta-feira: dia seguinte de labuta noturna, além de ser o dia oficial de lucros maiores. A unha já estava feita.

- Quero duas canetas por um real, moço.

- Obrigada, fique com Deus.

- O senhor também.

Meu Madame Satã desceu do ônibus e correu até a frente oferecendo canetas ao cobrador e ao motoristas. Essas últimas, de graça. Entrou no ônibus da frente.

As canetas ainda estão com carga e são perfumadas, mas isso foi o que menos importou na compra.

Adoro inventar vida pras pessoas.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Alvinho para minha amiga Lelê

Acaso (Álvaro de Campos)

No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.
A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.
Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.
Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por gênio, se calhar,
Se calhar, ou até sem calhar,
Maravilha das celebridades!
Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos...
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?
Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser... A rapariga loira?
É a mesma afinal...
Tudo é o mesmo afinal ...
Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal.

Perdi o blogue

A postagem de "o bom filho à casa torna" era um poema de Álvaro de Campos, até o momento em que eu me dei conta de que não lembrava mesmo meu login e senha do blogue.

Aí eu vi que o negócio tava sério.

Preciso voltar a postar com mais freqüência.

Lelê, você está certa.

O bom é que eu já tenho o próximo post; deixemos Alvinho para depois.