segunda-feira, 30 de julho de 2012

Das educações.

"Você vai sofrer muito, porque mulher é sofredora", dizia a moça pra criança de seus dois anos, na Marquês de Abrantes.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Horóscopo chinês - Macaco

Uma vez leu que essa era uma característica do macaco, seu signo do horóscopo chinês: a facilidade de estar bem em qualquer ambiente, de conseguir se adaptar à situação. Nunca entendeu isso como bom. A sensação que dava era a de que não tinha as rédeas da própria vida e por que raios deveria ter as rédeas da vida? Nunca soube disso muito bem. Tinha a impressão de que as metas e os sentidos da vida já estavam previamente listados no mundo e que deveria cumpri-los, com o risco de ser multada ou morta, caso deixasse seu caminho ser seguido de outra forma.

terça-feira, 3 de julho de 2012

A saudadibilidade da perda

A saudade completa os traços pelas mãos da memória de um subjuntivo que cessou. Lembrar de uns dias do ônibus, dos choros, da música boa que entrou nos meus ouvidos, prêmio do nosso convívio, de um amor de irmão, do medo que ficou dele ter ido sem saber do tamanho dessa importância. Prossigo contando as novidades, agradecendo pelo abraço que eu sei que eu ganharia naquelas horas em que nada melhora a vida como um abraço de amigo. O hábito de falar com um tipo de céu, antes de dormir, todos os dias, que criei na tentativa de uma louca função fática da comunicação que pode soar mística ou religiosa. O costume de um amigo não se perde, não se morre, não se chora. Amizades se agradecem, se cultivam, se acariciam. A saudade hoje é diferente, uma dor que já trocou de roupa, virou melancolia, virou sorrisinho no canto de boca, um sorriso quase triste traduzido por uma frase na parede da escola que me lembra o espírito de uma mãe tão inspiradora: não fique triste porque acabou; agradeça por ter acontecido. A gente hoje já não sopra velas ou toma chopp, nem fuma um cigarro, ou ouve um the smiths juntos. Mas ele caminha do meu lado ainda, em um pouco do que eu sou, em muito do carinho que eu consigo dar por aí. Naquela hora que eu fico egoísta e pergunto por que determinou-se que ele não estaria mais a duas quadras de mim. A gente hoje felicita a vida, por há um tempinho atrás, você ter nascido e feito parte das nossas vidas de uma forma tão abençoada. Um beijo, com muito amor, meu amigo Bruno. Música que apresentada pelo Bruno a mim, numa conversa sobre saudades e perdas. :)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Às vezes me preservo, noutras suicido



Lenha (Zeca Baleiro)

Eu não sei dizer
O que quer dizer
O que vou dizer
Eu amo você
Mas não sei o quê
Isso quer dizer...
Eu não sei por que
Eu teimo em dizer
Que amo você
Se eu não sei dizer
O que quer dizer
O que vou dizer...
Se eu digo: Pare!
Você não repare
No que possa parecer
Se eu digo: Siga!
O que quer que eu diga
Você não vai entender
Mas se eu digo: Venha!
Você traz a lenha
Pro meu fogo acender
Mas se eu digo: Venha!
Você traz a lenha
Pro meu fogo acender...
Eu não sei dizer
O que quer dizer
O que vou dizer
Eu amo você
Mas não sei o quê
Isso quer dizer...
Eu não sei por que
Eu teimo em dizer
Que amo você
Se eu não sei dizer
O que quer dizer
O que vou dizer...
Se eu digo: Pare!
Você não repare
No que possa parecer
Se eu digo: Siga!
O que quer que eu diga
Você não vai entender
Mas se eu digo: Venha!
Você traz a lenha
Pro meu fogo acender...
Mas se eu digo: Venha!
Você traz a lenha
Pro meu fogo acender...(5x)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Das hipérboles da ausência

A gente contava piada para distrair os momentos desconfortáveis. E hoje, pensando na quantidade de piadas que trocamos, posso considerar que não tenhamos vivido momentos tão bons como parece, quando a saudade aperta. Mas essa é uma das habilidades da morte: a de transformar sensações boas em ruins e ruins, em boas para que se tornem grandes perdas e assim termos mais um motivo para sofrer.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A parábola do fio dental

Sujeira procura espaço. Se tiver espaço no dente, a sujeira gruda. Tem dente que tem buraco, covinhas mais fundas, tem dente separado por falha de obturação ou por alguma outra questão que não foi consertada com aparelho. Sujeira entra, acha o espaço e fica. Mora no buraco a mais do dente, nos espaços vazios.

Tem alívio maior do que passar um fio dental entre os dentes sujos e sentir saindo aquela massinha que bloqueava o ar de passar quando a gente sopra com a língua vedando a parte de baixo do dente?

Tem dente muito atrás que, dependendo da boca, torna difícil a chegada da mão com as pontas do fio enroladinhas no dedo. Mas aí dá pra ajudar com o palito, com a língua, com a escova de dente. O fio fica só pro arremate da limpeza.

Não dá pra tapar todos os buracos da boca, mas dá para mantê-los limpos, varrendo as pequenas sujeiras - jamais subestime o tamanho de um intruso, pois as cáries não precisam ser grandes para doer -, não deixando acumular nunca a dor.

Tirar sujeira com motorzinho dói e é bem mais caro.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Pressão Social

Dezembro natal ano novo carnaval. Depilação academia independência namorado casamento maternidade netos. Salário bom realização pessoal vida sexual ativa. Cabeça boa bem resolvida analisada bom caráter políticas corretas festas de aniversário. Raiz pintada sobrancelha feita unha sem cutícula. Peito em pé foto da viagem souvenir. Educação simpatia. Despertadores celulares computadores câmeras fotográficas. Roupa nova roupa branca calcinha rosa. Saúde estética trabalho. Produtividade pró atividade. Sanidade calma alegria felicidade.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Super fucking bonder

Ontem, abri uma super bonder que estava na caixa há bastante tempo e colei, primeiro, um cinzeiro que a Monique me trouxe de Portugal, e que eu tinha deixado cair no chão. Quebrou ao meio, mas eu guardei os dois pedaços e ainda um pequeno, quase farelo, pra não ficar falha quando eu colasse. Depois, colei a assadeira de louça que quebrou ontem na mão da Cláudia. Guardei, era a única. Colei com super bonder. Lembrei do espelho da caixinha do pó compacto que tava solto. Aproveitei que tava com a super bonder na mão. Colei pedaços guardados de coisas quebradas.

Coloquei o cinzeirinho de volta ao lado do computador e notei que por mais bonitão que ele estivesse colado, ficou uma linha no meio, uma rachadura que guarda nela aquela queda há tempos atrás. O caquinho também não ficou tão encaixado. Na hora de colar, deixei ele por último e ficou meio altinho, sabe? Aí não deu para desfazer. Era super bonder, lembra? Olhei com um pouco de pena pelo cinzeiro não voltar a ser intacto como antes, mas voltei os olhos pra tela do computador, ao trabalho.

Na hora do almoço, a assadeira não foi para o forno. Não existe na caixa da super bonder um texto sobre a possibilidade ou não de levar ao forno um objeto colado. Liguei pra duas ou três pessoas e ninguém sabia me responder, mas o conselho foi único: cuidado, melhor não, deve trincar, a louça vai estalar. Não quis arriscar meu peixe do almoço, quem sabe amanhã eu tente colocá-la no forno, com um pouco de água, para o teste. Ou se compro outra e deixo essa antiga para saladas. Lamentei um pouco também, fiz o peixe no prato – não tem o mesmo charme da assadeira, mas fica gostoso, dá para usar. As coisas não voltam ao estado intacto, quando se quebram e se colam. O cinzeiro em cima da mesa não me deixava esquecer.

O espelho grudou bem, na caixinha do pó compacto. Maquiagem, né. Disfarça tudo.

sábado, 5 de novembro de 2011

viajar

Nunca regi, sempre fui em direção a uma porta, por um caminho desconhecido, um nada. Eu tinha um plano errado e um céu cinza. Só.

Cenas do próximo capítulo. Não tem, não teve.

Da vida, não se espera uma imagem pronta. Os futuros não existem ainda, não há mão forte que dirija esse volante. Sem água, sem banho, sem comida ou sem privada. Assim estamos amanhã, qualquer um. Estou tão morta, amanhã, como está qualquer personagem histórico. Das imprevisibilidades da vida e de seus pontos de vista transformadores de essência e moldadores do real. Pontos de vida. Vértices de virada. Todo dia muda a cena, no mesmo ritmo ditado na introdução. Também estamos tão ricos como o tio Patinhas.

O futuro está tão vazio quanto eu e o mundo não se mexe por nenhuma angústia. Ele amanhece, entardece, chega noite, vira a lua. E nada disso é por nós. Todo esse universo está disponível como um palco para uma peça de teatro.

Arremessados a distância, cada um dos 7 bilhões precisa sobreviver e criar algum modus operandi para ocupar os espaços em branco do dia seguinte.

QUando aqueles estudos todos não servem de porra nenhuma e as perspectivas que um dia imaginamos ter parecem ter sido escritas por alguma criança em fase de alfabetização. Você não se reconhece mais, quando os elementos que você juntou não resultaram na receita anunciada no livro da família. E não parece, tampouco, ter dado errado. Os fatos, normalmente, não enganam: eles aparecem pelados diante de nós, ainda que negando fogo. E qualquer máscara não sustenta o caos até o fim: nenhuma máscara, nenhum caos. Isso que saiu do forno eu não conheço. Mas preciso almoçar e como os pedaços de cada fatia servida.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Bom dia

quando
(
e se
)
a
cor
dar
ao lado,

sorri.

caso contrário,

a
dor
me

ser.