segunda-feira, 20 de abril de 2009

Cada qual no seu mundinho

Não daria para entender e ele sabia disso. Ela também e talvez por isso, eles não parassem de se olhar, como se pudessem ler os pensamentos um do outro. E que bom que não podiam, pois sabiam que nada seria entendido - o que já não era.

Ela tentava, inutil e incessantemente, mudar o que sentia e que acabava levando-a a agir de um jeito incompreensível. Mas toda quinta-feira era igual quando pegava o celular e enviava uma mensagem de texto para ele, que respondia prontamente aceitando o convite para jantar ou ir ao cinema ou qualquer outra desculpa para que acabassem entrelaçados em algum motel da cidade. Gostava daquele cheiro sem perfume que ele tinha, gostava de sentir as pernas dele pesando nas delas, empurrando as cochas e o abdomen para frente e para trás, outras vezes para cima e para baixo. Sabia que gostava disso e de quando isso se repetia. Sonhava com isso e chorava de saudade, quando faltava. E faltava sempre, entre um encontro e outro - semanas viravam séculos e um mês parecia eternidade de conto de fadas, sem a parte do viveram felizes para sempre.

Ele curtia, apenas, aquilo tudo, aquela pessoa ligando, conversando, abraçando. Gostava das piadas, dos tropeços da moça, das músicas que ela costumava compor e mostrar para ele, antes mesmo de passar pelo crivo da banda. Muitas vezes, os encontros doíam no bolso, pois ele preferia manter a tradição de se responsabilizar pelas contas de bares, cinemas, jantares e, claro, a do motel. Mas acabava valendo a pena, pois ele gostava das esporádicas companhias e noites que ela lhe proporcionava. Sempre ficava surpreso quando seu telefone apitava com os sms's convidando-o para alguma programação na sexta-feira. Gostava assim, sem compromisso, sem muita pergunta, era boa aquela dinâmica que o deixava livre entre uma diversão e outra com uma mulher bonita, inteligente e boa de cama como ela. Desde seu último relacionamento, a idéia de ter alguém com quem dividir a vida não lhe parecia muito tentadora. E sabia que essa tranquilidade poderia trazer problemas em algum momento - via como ela o olhava e de alguma forma, sabia que ela queria mais.

E assim eles seguiam, cada um com seu mundinho, se esbarrando aqui e ali, numa espécie de fingimento inocente, de que estavam levando com muita tranquilidade o que tinham, o funcionamento despojado dos encontros. Como se cada um estivesse ciente da responsabilidade que tinham sobre si, em relação ao mundinho que acordava alguns sábados ao seu lado.

2 comentários:

Lady Shady disse...

Nossa...parece que tá contando 'minha história'...doeu aqui...
Pra vc ver que as histórias sempre parecem ser iguais mesmo...só mudam de endereço.
Na 'minha história' eu deu um 'enought'...ontem...
Eu disse ( via SMS aliás ): 'matula' no more...( se vc nã sabe o que é matula, depois te explico )
bjs

Letícia disse...

Onde se aprende a fingir?

Curso de teatro?