domingo, 5 de abril de 2009

Só está faltando a Dona Beija

Eles se separaram e quem saiu de casa foi ela. Ele ficou com o casal de filhos - a mais velha e o recém-não-mais-bebê.

As pessoas estão chocadas: Como uma mãe larga, assim, os filhos sozinhos?

Aí eu respondo: Não, ela não largou.Todas as quartas-feiras ela busca o casal na escola e em casa e, de quinze em quinze dias, os pequenos passam o fim de semana inteiro com ela: se divertem, tomam sorvete, brincam, vão ao teatro e ao cinema. E os dois não estão sozinhos... estão com o pai.

Os fulanos não entendem: Ah, mas ela é mãe... é crueldade deixar as crianças assim.

Eu tento explicar de novo: Não, ela não deixou... eles só se separaram.

Equivocados, continuam a argumentar: Mas é mãe. É instintivo.

Ainda com uma nesga de esperança na humanidade, esboço mais uma tentativa: Não, não é instintivo. É só uma convenção.

A humanidade insiste em me desapontar: Não... mãe é mãe. Tá dentro.

Só para ter certeza de que realmente estou ouvindo o que parece ser, lanço a pergunta final: O pai pode ir e deixar os pequenos com a mãe?

Os fulanos dão a resposta derradeira: Ah, o pai pode.

Aí eu penso que já deveria ter desistido dessa conversa na linha "As pessoas estão chocadas"*.

Levanto e olho pela janela, para ver se me depararei com carruagens, homens bigodudos, mulheres de vestidos armados, Dom Pedro desfilando e escravos levando chibatadas num tronco - chibatadas legitimadas pela mesma "biologia" que justifica esse instinto materno ma-ra-vi-lho-so e con-ve-ni-en-tís-si-mo.

*Preciso parar com essa mania de só reparar o lugar onde precisava ter cortado a conversa, muitas linhas depois.

5 comentários:

bastaestarvivo disse...

é fácil botar as coisas na conta dos instintos né.
bastante tentador.
e, se você começa a derrubar convenções, é difícil parar.
porque a grande maioria delas é fraquinha, fraquinha.rs.

Lady Shady disse...

Sociedadezinha machista de bosta!
Que coisa!

bjs

Letícia disse...

Ai, tô que nem a Calcanhoto no filme: não dá pra perder tempo com essas discussões, Carol! ;)

Um dia a gente aprende a parar na hora certa, com o máximo de polissemia possível, se é que você me entende...

Adriana Gouveia disse...

basta sair um pouco do conceito de certo ou errado imposto pela sociedade para as pessoas acharem que podem ou tem o direito de criticar o alheio, apontar e ter certeza de o que é melhor para elas é o melhor para os outros!

Clara disse...

nao tem jeito...é mais fácil as pessoas entenderem o que é comum do que pensarem no que é diferente! acredito que todos tem preguiça de pensar que o que nao é convencional pode ser bem legal!
bjosssss