domingo, 2 de novembro de 2008

Pedro & João

Pedro e João se conheceram na festa de despedida da Ciça, uma amiga em comum, e não tiveram como trocar algumas palavras. Como era despedida da Ciça, ela também não poderia promover encontros bem sucedidos entre eles, daquele jeito meio casual, mas com tudo pra dar certo. João deixou um dvd com a menina e Pedro, quando estava ajudando ela a arrumar suas malas, pegou o dvd e falou putz, esse filme é bom demais e ela falou putz, esse dvd é do João, esqueci de entregar e o Pedro, mais do que depressa, pegou o dvd e falou que faria o dvd chegar até o seu dono. Pegou e-mail, telefone, msn, fotolog, orkut, multiply, caixa postal, e pôs-se a entrar em contato com o menino, que respondeu, conversou, ligou, saiu, beijou, abraçou, transou, namorou.

Mas o Pedro era estranho - não que o João não fosse - e não queria muito que todos soubessem que o João era seu namorado, tinha essas questões no trabalho, em casa, com os amigos.

Ele se apaixonou pelo João, que tinha esse olhar já muito bem resolvido: assumidão, bem sucedido no trabalho, morava sozinho e não devia satisfações a ninguém e o comportamento do Pedro, de receoso, passou a permitir que ele desse muito pouco para João, que não queria resumir a sua vida a boates gays, restaurantes gays e amigos gays no fim de semana, depois de se vestir de hétero nos dias úteis.

O João tentava, de todas as formas, relaxar o namorado, tentava conversar, mas Pedro lembrava dos playboys que lhe enfiaram a porrada na saída de uma festa, nos três anos que seu pai ficou sem falar com ele, no dia em que o irmão mais velho o levou na Vila Mimosa para comer uma mulher e ver o que era bom, na mulher do seu trabalho com quem ele teve que acabar ficando para que pudesse passar de estagiário a efetivo da empresa... no primeiro namorado, a quem só beijava no completo escuro para não ter que ver que estava beijando um homem... e não deu.

Ele sabia o quanto era necessário que toda essa dor virasse só lembrança ruim, que a vida estava mostrando que não precisava ser desse jeito. Não que João nunca tivesse passado por playboy marrento na rua, que tivesse sido tema de piada na faculdade e no trabalho. Ele tinha essas experiências e alguns medinhos enterrados, como todo mortal.
Mas nele, Pedro, isso não era fácil de acontecer, por mais que ele quase explodisse tentando fazer diferente e não conseguisse, na maioria das vezes.

João cansou, Pedro se machucou, tentou consertar, comprou uma camisa de arco-íris, participou da primeira parada gay de sua vida, entrou em comunidade gls no orkut, mas João já tinha cansado, se machucado, ficou de saco cheio do Pedro. Não dava mais, sabe?

Pedro começou a fazer terapia, entrou em grupos de apoio, batalhando essa transformação.

Outro dia encontrei com ele na praia e ele disse que ainda não esqueceu o João, que ainda tá difícil, mas que ele sabe que um dia as coisas se acertam entre os dois, ou entre ele e quem quer que venha.

Um comentário:

Letícia disse...

Pedro ficou triste, mas a felicidade está a caminho. Com ou sem João, há espaço pra ela!
Beijos.