sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sessão Amigdalite.

Enquanto os meus gânglios não viram duas Jabulanis pra azucrinar os goleiros da copa do mundo, eu vou seguindo com a tentativa dessa semana histórica do tédio passar o mais rápido possível.

Já conferi, de cabo a rabo, as programações das tvs aberta e fechada no período da tarde e da madrugada (porque a hora de dormir talvez seja a mais irritante por conta da dor rasgante que começa no fim da língua e termina na alma, se é que termina), já brinquei com os bibelôs do mundo nerd no quarto do meu irmão, discuti 74 vezes com a minha mãe, apertei 47 vezes em um minuto o botão de refresh da minha caixa de entrada de emails, entre outras vãs alternativas de ficar tranquila nos intervalos do antibiótico de 875 mg ou o maior comprimido do mundo.

Parece uma piada sem graça: você tem uma dor de garganta que te tira do sério e para que a amigdalite purulenta [sic Sidinho] vá embora, você precisa ingerir uma caneta de dez cores de 12 em 12 horas. O comprimido só perde pro Geneal duplo.

Ontem, no entanto, como a insônia já era prevista, liguei para a locadora e o mocinho deles trouxe-me 3 filmes - que foram vistos em sequência, tal qual uma temporada de Lost (snif...).

Enfim, vi "Amor sem escalas" (Up in the air), com o pediatra do ER cada vez mais belo e charmoso, numa trama que muito me agradou.


Eu sei que não sou imparcial para certos assuntos e raramente um roteiro que trate do digamos Lado B universo afetivo me soa bem. O primeiro foi "O grande garoto", roteiro adaptado do romance de Nick Norby. Gostei muito do olhar para o mundo das descartabilidades (existe isso?) de pessoas, tanto no mundo corporativo como nas relações que estabelecemos fora daquelas às quais somos obrigadas e como podemos aprender com elas. Gosto quando alguns pontos de vistas que (até então) não se encaixam nos convencionais são apresentados sem maiores julgamentos.

Boa parte do filme segue por aí, e mesmo com as já esperadas e conhecidas lições e o (nem sempre verossímil) arroubo do amor que aprendemos ser correto, o saldo foi positivo. Nota 8,5

Em seguida, para Dona Rose não desistir do terceiro, botei Gloria Pires e Paulo Miklos no DVD e me surpreendi com "É proibido fumar".


Gloria Pires arrasou na solteirona professora de violão tentando dar um jeito na vida enquanto disfarça suas fraquezas e tenta controlar a compulsão dos cigarros. O quanto precisamos/podemos engolir de sapos para levar uma história adiante? O que a gente releva do outro quando gosta... a gente gosta ou a gente precisa realmente de alguém? Como essas coisas são percebidas, se é que são - já que nem sempre temos uma fita nos mostrando o que o outro viu de meleca que colocamos debaixo da mesa?

A história me desceu redondo, a tensão veio na medida certa, o desfecho foi equilibradamente surpreendente e previsível. A rotina de trabalho, as picuinhas de família e a dificuldade das pessoas em aceitar as opções alheias foram tão bem colocadas - sem muita breguice, sem muito engajamento -, que cada personagem ou situação ganharam minha torcida. As cenas no cubículo depilatório arrancaram gargalhadas.

O filme arrancou não só gargalhadas, mas lágrimas, surpresas, identificações. Saldo positivíssimo.

E por último, mas não menor, revi Abraços Partidos (los abrazos rotos).


Pausa para três suspiros.
Ahhhh
Ahhhh
Ahhhh

Vou revê-lo mais uma vez, daqui a pouco, sem som. Aquela harmonia de vermelhos, azuis, roxos, amarelos, mosaicos, cenários de Hoper, Penelope Cruz divina ali no meio do arco íris vibrante... cada detalhezinho das paredes, da pipa na areia da praia, na camiseta do Diego discotecando, no vidro da recepção do hospital.


Tudo é lindo no mundo de uma história dentro da outra, dos segredos loucos desabafados como presentes estranhos de aniversários. Relações doídas, doidas, enterradas, cegas. Um carinho para a visão e um agradecimento ao bom gosto, ao olho, às mãos e às referências de quem torna isso possível.

Acabou o terceiro e o único arrependimento foi de não ter alugado o quarto. A ideia era alugar Sherlock, mas achei exagero. Talvez fosse, pois se depois de três saldos tão positivos (minha conta bancária invejou) eu vejo alguma coisa more or less, ia estragar esse bloco satisfatório.

Depois continuei de frente pra tevê, me entupindo de enlatados que o mundo a cabo oferece. Aproveitando o mundo a cabo que a casa de mãe oferece.

Para hoje, aceito sugestões.

4 comentários:

Bia Prado disse...

Adorei! Nasce uma nova crítica de cinema!
Irei assistir o brasileiro e vou rever o Abraços Partidos. Tb amo tudo nele!

Anônimo disse...

Leia um livro de um fôlego só!
Nanda

Anônimo disse...

Ótimo post!
Dos três, assisti só o primeiro. Também gostei, inclusive escrevi a respeito num post há algum tempo.
Espero que a amigdalite seja curada rapidinho (os antibióticos têm que fazer algum bem!) e que você não precise ficar tanto tempo em frente a TV, vendo os enlatados da vida.
BjO*

Deveraneios disse...

Oi, Carol!
Sabia que na minha cidade a oferta de filmes não é tão boa assim? Ainda não vi nenhum desses nas locadoras...
No entanto, já que citou Penélope, pergunto: já viu "Sem notícias de Deus?" Gostei muito da ironia acerca das civilizações...
Talvez eu passe a fazer parte dos grupos que baixam filmes e fazem a cópia pirata. Não sei.
Melhoras!