segunda-feira, 26 de novembro de 2007

"Ricifi"...

Chego carregada de tensão. Estou no solo do lugar que, desde o primeiro dia que vi de cima, me localizei no mundo. O pouso é estranho e barulhento, como se a asa do avião chegasse antes das rodinhas e isso dá medo. Acordo com a mão do meu amigo me protegendo, como uma mãe a seu filho no banco do carona, no momento de uma freada brusca.

De malas em punho, estou entre amigos de falas musicais, trazendo novos elementos ao meu vocabulário, me recebendo de braços abertos, ainda que sem o Corcovado. Bem vindo a Recife, a placa dizia.

(...)

A água é quente e rasa, passando por cima de uma areia mais escura e bem fina. Muitas algas passam pelas pernas, que a princípio, assustam, mas depois abraçam. O menino do bar está a léguas de distância, apoiado num burrico, conversando com um amigo e nem nos vê chegar. Cariocas tensos acenam indignados para chamá-lo e depois que ele percebe, termina a conversa e vem caminhando normalmente. Pois não? Queremos uma mesa. Só uma? Sim, uma mesa e três cadeiras. Só? Não vão querer beber nada? Sim, traga uma cerveja e o cardápio. A calma, a princípio, irrita, mas depois contagia. E daí que só trouxeram uma latinha de cerveja? E daí que pedi guaraná e veio pepsi? Bastava olhar em volta e entrar naquela água morninha, que pouco importava se não amenizava o calor do sol. Dá para boiar e se deixar levar pela correnteza, olhando para o inacreditável céu mais do que azul, estampado por folhas de palmeiras (ou seriam coqueiros?), muitas vezes rindo ao assustar-se com algum tronco trazido pelo caminhar do rio.

Saindo da água, noto que ela alcançava a metade dos pés da cadeira, sinalizando que em pouco tempo precisaríamos sair, porque assim ela determinou. Com os dedos das mãos enrugados, chamo os amigos para acompanhar minhas pegadas naquela areia mais afastada, que parecia uma mousse ou uma cobertura de bolo de festa de criança. O pé, ao afundar, é massageado como numa sessão de shiatsu ou coisa parecida. É como pisar em doce de leite, se fôssemos pequenos o bastante para mergulhar os pés dentro de uma latinha marrom. E a impressão do pé demora a sair da areia, com a mesma calma do mocinho do bar, ao trazer a conta e limpar a mesa.

A maré subiu e a mesa está quase imersa. Caminho em direção ao carro, olhando sempre para trás, inspirando forte, tentando segurar o máximo de segundos o ar daquele berçário de cavalos marinhos.

2 comentários:

sineot disse...

mto bom!

Essa mao do amigo na freada brusca é prova de amizade.
100% instinto.

Lissandro Garrido disse...

recife é muito bom... uma malemolência...

aproveite! :)
bjs