quinta-feira, 8 de abril de 2010

Da lama ao caos. Do caos ao lamas.

Suspeitei que algo estaria errado quando, na segunda feira às 21:30 o ponto de ônibus da Presidente Vargas, em frente à Candelária, estava lotado. O meio da rua vazio sem nem sinal de ônibus algum, num ponto comum a tantas linhas diferentes, ia dando a entender que realmente alguma coisa estava fora de sua rotina. O 154 chegou e era como se eu estivesse dentro de um coletivo das seis da tarde e não das dez da noite: gente em pé, sem muito espaço de respiro, entrando em média 6 pessoas por ponto. O caminho, da Praia do Flamengo até a Marquês de Abrantes foi até melhor que o esperado, tendo em vista o trânsito perturbador que o motorista precisou atravessar, em frente ao IHGB, no sentido Lapa.

Eu tinha pego dois trajetos de muita chuva ao longo do dia e isso significou dois momentos de roupa secando no corpo. O nariz não gostou, a imunidade baixou, a cabeça reclamou e a noite foi de cão.

Acordei desavisada sobre o caos do lado de fora. Tomei conhecimento pela Internet, acompanhando twitters, globonlines, enquanto tentava desvendar os mistérios da ilha de lost trancada na minha habitação quadrática. O dia acabou e eu era melhor amiga de Sayid, chorei de soluçar no enterro do Boone, fiquei com raiva do careca e da Kate e tremia a cada barulho da chuva na minha janela. Podia ser o vento assassino, os outros, o Ethan.

Mas era uma chuva cujo tamanho a cidade só viu há 44 anos atrás e que conseguiu abalar um território em todos os sentidos. No meu trabalho, alguns dormiram lá mesmo, encolhidinhos no chão. O pai de uma amiga demorou 12 horas para fazer o trajeto Castelo-Tijuca. A moça da limpeza perdeu tudo que tinha em casa. O marido da minha prima dormiu num posto de gasolina. O prefeito mandou geral ficar em casa. As contas não contarão o dia de ontem como atraso de pagamento. A PUC ficará até sexta sem aula. Meu pai tá vigiando a vista linda da janela dele, com medo de deslizamento.

E a gente pensa que pode ser irônico dar graças a Deus por não ter terremotos, vulcões ativos, furacões; os tais desastres naturais; hoje essa sorte está mais distante, com a cidade meio barrenta, uma galera sumida, um bando de árvore caída, de rua fechada, de comércio fechado.

Os portais de notícias bombam, os e-mais solidários pipocam, as pessoas pensam nas outras, lembram que tem pobreza, miséria, esgoto entupido, não mudam de assunto.

E tome tênis, guarda chuva, capa, saco plástico no pé, marcação de choppinho, até que venha a próxima enxurrada de notícias, intercalada com uma quase imperceptível calmaria.

6 comentários:

Letícia disse...

Tá foda.

Bruno Dante disse...

Eu gosto de ler seus escritos! Faz pensar que de verdade a gente tem um roteiro nao formatado dentro de uma cabeça que questiona ao longo do dia, como ir na rua nesse tempo louco,que abre chuva, depois aparece o sol, venta e eu penso: tão filmando um filme por aqui? E as palavras desandam num texto desalinhado. Beijos

bia prado disse...

Tá foda ao cubo!

Aureliano Mailer disse...

Acho que vou me internar no LOST, porque por aqui a coisa está muito dark*
* dark é politicamente correto?

Dona Baratinha disse...

Vantagens de estar confinada na casa do Big Brother. Nina e eu saboreamos as matérias-catásfrofe do jornalismo-emoção que tem assolado a Globonews...

Anônimo disse...

Você escreve muuiito bem! Adorei!
Bjs.