Tinha o Fabinho, lá do prédio da minha vó. Ele achava que eu ficava com um monte de meninos nas festas, beijava dois, três, quatro numa noite só. Mas a verdade era que eu não tinha beijado ninguém. Nunca. E tava doida pra dar uns beijos nele. Fabinho ficava com Rafaela, minha amiga lá do prédio da minha vó também. Ela gostava dele e ele não tava mais curtindo ela - eu sabia, ela não. E eu doida pra ficar com ele, pedindo pra Rafa não contar pra ele que eu nunca tinha beijado alguém. E todo fim de semana eu ia para o play de Dona Déa flertar com o rapaz, contando as inúmeras e falsas peripécias vividas por mim nas matinês da Zona Sul. Num desses fins de semana, meus pais inventaram de ir para um hotel fazenda. Oh god. O fim do mundo era não estar no play no sábado nem no domingo: Fabio e Rafaela ficariam sozinhos! E se ele mudar de idéia? E se ela se jogar nos braços dele? - é claro que eu achava a Rafa atiradinha demais... - Falei com a Tatá, outra amiga do prédio, pra ela ficar de olho e me contar tudo, não importava a má notícia! Não filtre nenhuma informação, Tatá!
Em 1992, os celulares praticamente não existiam nos lares do Grajaú e o fim de semana andando a cavalo e tomando banho de piscina foi doído, tomado de dores de ansiedade e pesadelos. O que estaria acontecendo por lá? No sábado tinha festa no play e eles ficariam por lá até bem mais tarde do que as 22:00 habituais, quando as luzes eram desligadas e a gente subia pra casa.
Domingo à noite a gente voltou para casa e eu já pedi que meus pais me deixassem no prédio da minha vó. Toquei na casa da Tatá e ela já saiu rindo.
- Carol, tu não sabe.
- Eles ficaram na festa, né?
- Que nada... foi um barraco...
-...
- Ele veio com uma menina pra festa! Uma tal de Júlia. Quando a Rafa viu, foi lá tirar satisfações.
- O Fabio veio com uma menina...
- Horrorosa, Carol. Tinha que ver.
- Com uma menina???
- Eles tavam lá atrás e a Rafa chegou gritando que ele tinha que se resolver, que ela gostava dele e perguntou se ele queria que ela se vestisse de Carol pra ele gostar dela e ele disse que ela podia roubar seu guarda-roupa, que nunca ficaria igual a você.
- Mas ele tava com uma menina, né?
- Tava.
- E ela ouviu tudo?
- Ouviu.
- E aí?
- Ah, riu da Rafa. E eles ficaram, acho que ela não ligou muito não...
- Ele ficou com a menina...
- Ficou.
- E você, como foi a viagem?
- Foi boa. Fiquei com um americano no hotel.
- Jura?
- Foi. Tatá, vou pra casa, tô cansadona.
MiniCarol liga para Fabinho e pergunta quem é Julia.
"É uma menina da minha escola. Tô gostando dela."
MiniCarol, cada vez mais mini, pergunta se eles vão namorar.
"Acho que sim. Ela ficou de pensar. Soube da vergonha que a Rafa me fez passar?"
MiniMicroCarol respondeu que não sabia de nada e perguntou o que aconteceu?
"Ela tá morrendo de ciúme, achando que a gente tava ficando. Falei que você é melhor que ela. Ela perguntou se eu queria que ela se vestisse igual a você pra eu gostar dela e eu disse que não ia adiantar, que ela nunca ia ser igual a você."
MiniMicroCarol simula uma gargalhada e deseja boa sorte a ele no novo namoro.
"Obrigado, Carol. Beijo."
Outro.
segunda-feira, 28 de julho de 2008
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3 comentários:
Quantos fins de mundo a gente agüenta numa vida?
Pô, mas que cara vaselina, hein? Foi o fim do mundo na época (digo isso com o maior respeito!), mas hj em dia dá pra sacar que ia ser a maior derrota!! Sou mil vezes mais a Kérouzinha do que esse Fabinhozinho.
Beijos.
Ai que texto bom, todas nós jea tivemos um Fabinho na vida e fim de mundos intermináveis.
bj,
Simone
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