Quando a exibição do primeiro episódio do programa acabou, as luzes não voltaram a acender; apenas a do palco, que exibia o banquinho agora ocupado por Adriana Calcanhoto. Aplausos.
Tranquilidade pura, até a segunda música, pois ela desandou a cantar eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar, em cada despedida eu vou te amar. Desesperadamente, eu sei que vou te amar. E cada verso meu será prá te dizer que eu sei que vou te amar, por toda minha vida....
Como se já não bastasse, a bandida continuou com a letra e engatou no Eu sei que vou chorar a cada ausência tua eu vou chorar, mas cada volta tua há de apagar o que esta ausência tua me causou.
Puxa, Calcanhoto, brincadeira, né. Vamos parar por aí?
Mas ela não parou e, com requintes de crueldade, naquela voz baixinha e quase aconchegante, lançou a sentença final: Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver à espera de viver ao lado teu, por toda a minha vida.
Como eu vi que não adiantava de nada tentar mandar na artista, inciei o teste da minha autoridade com o que tinha dentro de mim: lágrimas ávidas pelo show começavam a querer sair de qualquer jeito, mas eu disse não. E elas me ignoraram solenemente, descendo uma a uma, com os bracinhos levantados no tobogã da minha bochecha maquiada – eu podia ouvir o gritinho de iupiiii de cada uma.
Bandidas. Lágrimas e Calcanhoto, ardam no mármore do inferno, vocês todas.
quarta-feira, 18 de março de 2009
quarta-feira, 11 de março de 2009
Capa feia.
Li o livro na faculdade, quando ainda fazia letras e achei maravilhoso. Emprestei para alguém que não lembro quem e o livro não teve os famosos "dois vês", mas um fenmv*.
Agora, O Leitor bombou no cinema e eu não vi, quero ver, mas também não estou com pressa. Quero o livro de novo, para ler mais uma vez antes de ver o que fizeram com as imagens que eram só minhas.
Mas já viram a capa do livro?
Me recuso. Precisava da Kate Winslet ilustrando?
*foi e nunca mais voltou
Agora, O Leitor bombou no cinema e eu não vi, quero ver, mas também não estou com pressa. Quero o livro de novo, para ler mais uma vez antes de ver o que fizeram com as imagens que eram só minhas.
Mas já viram a capa do livro?
Me recuso. Precisava da Kate Winslet ilustrando?
*foi e nunca mais voltou
Desencontros.
Tudo aquilo que ela precisava era da certeza do amor dele, e da sua garantia de que não havia pressa, pois tinham a vida pela frente. Amor e paciência - se pelo menos ele tivesse conhecido ambos ao mesmo tempo - certamente os teriam ajudado a vencer as dificuldades.
(...)
Na praia de Chesil, ele poderia ter gritado o nome de Florence, poderia ter ido atrás dela. Ele não sabia, ou não teria querido saber, que, enquanto fugia, certa na sua dor de que o estava perdendo, nunca o amara tanto, ou mais desesperadamente, e que o som da voz dele teria sido seu resgate, e que ela teria voltado atrás. Em vez disso, ele permaneceu num silêncio frio e honrado, na penumbra do verão, a observá-la em sua precipitação ao longo da orla, o som do seu avanço difícil perdendo-se entre o das pequenas ondas a quebrar na praia, até ela ser apenas um ponto borrado, desaparecendo na estrada estreita e infinita de seixos brilhando sob a luz pálida.
Do livro Na praia, Ian McEwan
(...)
Na praia de Chesil, ele poderia ter gritado o nome de Florence, poderia ter ido atrás dela. Ele não sabia, ou não teria querido saber, que, enquanto fugia, certa na sua dor de que o estava perdendo, nunca o amara tanto, ou mais desesperadamente, e que o som da voz dele teria sido seu resgate, e que ela teria voltado atrás. Em vez disso, ele permaneceu num silêncio frio e honrado, na penumbra do verão, a observá-la em sua precipitação ao longo da orla, o som do seu avanço difícil perdendo-se entre o das pequenas ondas a quebrar na praia, até ela ser apenas um ponto borrado, desaparecendo na estrada estreita e infinita de seixos brilhando sob a luz pálida.
Do livro Na praia, Ian McEwan
terça-feira, 10 de março de 2009
peçonhas
Com menos de 8 dias de intervalo, uma perereca pulou no meu peito e uma lagartixa na minha mão.
Eca.
Eca.
Mulheres são de Vênus e homens de qualquer canto (ou de lugar nenhum).
10.03
Hora do almoço.
Aquelas histórias escabrosas de namorados que esperam a mulher engravidar para se declararem confusos e aparecerem, uma semana depois, apaixonados por alguma teenager que representa tudo o que eles diziam lutar contra.
Aí mentem, machucam e ficam muito bem, obrigado, decepcionadíssimos com o descontrole feminino, chocados com a suposta imaturidade de suas ex.
(In) felizmente, tenho amigos do bloco da testosterona que confessam:
É. Somos assim: enrolamos quando sabemos que a resposta é não. Inventamos desculpas e acreditamos nelas para sairmos das histórias com a consciência limpa, nos sentindo justos e honestos. Porque a cabeça do homem é simples, Carol. É sim ou não e quando ele diz 'não sei' ou 'talvez', joga para o campo do não, porque se fosse sim, ele estaria dentro. Um dia, ele vai entender isso e, optar se continua na molecagem ou se parte para a verdade.
Liderando as lições do bloco da testosterona, vem meu pai, com a célebre frase de minha primeira grande decepção com esse mundo nefasto do universo heterossexual masculino:
Filha, homem entra no puteiro e precisa se apaixonar pela puta pra poder trepar com ela. Aí trepa, paga e vai embora.
Ok, desde que não conquiste a puta, né, pai?
É um chopp que faz bem, um livro que lava a alma. um abraço que acolhe, um filme que vira análise, um cafuné.
Hora do almoço.
Aquelas histórias escabrosas de namorados que esperam a mulher engravidar para se declararem confusos e aparecerem, uma semana depois, apaixonados por alguma teenager que representa tudo o que eles diziam lutar contra.
Aí mentem, machucam e ficam muito bem, obrigado, decepcionadíssimos com o descontrole feminino, chocados com a suposta imaturidade de suas ex.
(In) felizmente, tenho amigos do bloco da testosterona que confessam:
É. Somos assim: enrolamos quando sabemos que a resposta é não. Inventamos desculpas e acreditamos nelas para sairmos das histórias com a consciência limpa, nos sentindo justos e honestos. Porque a cabeça do homem é simples, Carol. É sim ou não e quando ele diz 'não sei' ou 'talvez', joga para o campo do não, porque se fosse sim, ele estaria dentro. Um dia, ele vai entender isso e, optar se continua na molecagem ou se parte para a verdade.
Liderando as lições do bloco da testosterona, vem meu pai, com a célebre frase de minha primeira grande decepção com esse mundo nefasto do universo heterossexual masculino:
Filha, homem entra no puteiro e precisa se apaixonar pela puta pra poder trepar com ela. Aí trepa, paga e vai embora.
Ok, desde que não conquiste a puta, né, pai?
*
O importante é que no meio desses furacões, a gente descobre coisas e pessoas. Pessoas que estavam ali de algum modo, mas que, por falta de oportunidade, ainda não nos tinham feito tão bem. Pessoas que talvez nunca terão a dimensão da importância da ajuda. E são essas as pessoas que mais merecem saber.É um chopp que faz bem, um livro que lava a alma. um abraço que acolhe, um filme que vira análise, um cafuné.
Verborragia Alérgica.
Dúvida. Egoísmo dos problemas e das dores que aprendera a não tolerar. Contundência. Urgências de respostas, soluções. Pitadas grosseiras de saudades rasgantes, bailes e sujeiras, cheiros de um amor inacabado. Goles, mordidas, fôlegos, perguntas. Pedidos e convites, autocentrismo.
Inventei uma flor com teu nome e ela é laranja e grande. Suas pétalas me chamam para si e indicam o mapa que faria com que chegasse até o teu castelo. Inabitável castelo, com elefantes e torres gigantes, enigmas abridores de portas fadadas ao trancamento eterno. Chamas de uma fogueira de fagulhas baixas, de caminhos inacessíveis. Lágrimas, erros, estupidez. Murros em pontas de faca, águas moles em pedras duras que de nada adiantam para transpassá-las. Sonos e despedidas, faltas de ar, cansaço. Ditados de 4 ou 5 dias intermináveis.
Inventei uma flor com teu nome e ela é laranja e grande. Suas pétalas me chamam para si e indicam o mapa que faria com que chegasse até o teu castelo. Inabitável castelo, com elefantes e torres gigantes, enigmas abridores de portas fadadas ao trancamento eterno. Chamas de uma fogueira de fagulhas baixas, de caminhos inacessíveis. Lágrimas, erros, estupidez. Murros em pontas de faca, águas moles em pedras duras que de nada adiantam para transpassá-las. Sonos e despedidas, faltas de ar, cansaço. Ditados de 4 ou 5 dias intermináveis.
quinta-feira, 5 de março de 2009
Cada um por si e Jimena por ninguém
Jimena e Jacó terminaram. Jimena ficou numa de ausente, querendo meio que o mundo explodisse inteiro, que pouco ligava se o Jacó fosse cansar dessa situação, mas, como a gente sabe, esse sentimento só vem porque a gente não sabe como vai ser quando o outro cansar de verdade.
Aí o Uruã ainda ligou algumas vezes, chamou pra sair, mas não rolou cinema nem japonês: ele só queria saber de motel e, lá pra terceira vez, ela deixou ele dormir na casa dela. Ficou mal, a bichinha, depois que ele comeu pão de 7 grãos com queijo minas, bebeu o suco de mamão com laranja e cenoura que ela fez especialmente pra ele e levou na cama, tomou banho, usou uma toalha limpinha, botou o tênis, a bermuda e a camiseta e foi embora. Ela ficou esperando um torpedo, uma ligação, essas coisas de gente que gosta e espera que o outro goste também. Uruã nem tchum.
Tá querendo voltar para o Jacó, que já está em outra, mas ela não sabe ainda. Eu sei porque encontrei com ele numa festa, amarradão, tranqüilo, curtindo a vida.
Aí ontem a Eliza contou pra ela que tinha saído com o Uruã: parece que ele a levou numa festa de uns amigos. Tipo 'date' mesmo, apresentou Essa aqui é a Eliza , para todos os amigos dele.
To tentando chamar a Jimena pra sair, ir ao cinema, caminhar na praia, mas ela tá super desanimada, meio sem vontade de fazer qualquer coisa.
Aí o Uruã ainda ligou algumas vezes, chamou pra sair, mas não rolou cinema nem japonês: ele só queria saber de motel e, lá pra terceira vez, ela deixou ele dormir na casa dela. Ficou mal, a bichinha, depois que ele comeu pão de 7 grãos com queijo minas, bebeu o suco de mamão com laranja e cenoura que ela fez especialmente pra ele e levou na cama, tomou banho, usou uma toalha limpinha, botou o tênis, a bermuda e a camiseta e foi embora. Ela ficou esperando um torpedo, uma ligação, essas coisas de gente que gosta e espera que o outro goste também. Uruã nem tchum.
Tá querendo voltar para o Jacó, que já está em outra, mas ela não sabe ainda. Eu sei porque encontrei com ele numa festa, amarradão, tranqüilo, curtindo a vida.
Aí ontem a Eliza contou pra ela que tinha saído com o Uruã: parece que ele a levou numa festa de uns amigos. Tipo 'date' mesmo, apresentou Essa aqui é a Eliza , para todos os amigos dele.
To tentando chamar a Jimena pra sair, ir ao cinema, caminhar na praia, mas ela tá super desanimada, meio sem vontade de fazer qualquer coisa.
des tração
Tinha que entregar o projeto final até as 16:00 de amanhã. Mas não conseguia se concentrar e ainda faltavam algumas muitas páginas. E porra, por que tudo isso? Aquele esforço seco, parto entupido, palavra que não vinha. Carmem não conseguia se concentrar. Copão de guaraná ao lado, palitinho preso no olho. Pensava na vontade de trabalhar de bermuda, de correr na praia às nove da manhã e ir ao cinema no horário dos velhinhos. Passava a língua no espaço entre os dentes e ficava prendendo a ponta da língua por lá. Amanhã ia ficar dolorida, mas já tinha viciado no movimento. O arcondicionado ia direto nas costas da cadeira do computador.
Elaborou, mentalmente, um e-mail para o orientador, pedindo mais um dia. Aí lembrou que ela já estava no mais um dia que já havia sido pedido. E não podia perder a credibilidade, precisava entregar isso, acabar logo com essa masturbação acadêmica e ir para "os finalmentes", cujo significado era completamente desconhecido.
[Água com gelo. O caminho do quarto à cozinha era como um inferno na Terra: calor até não poder mais, bafo quente no corpo, desconforto físico. Desconforto melhor do que aquele que o arcondicionado não ajuda, nem no máximo.]
Pensou que a amiga tinha razão: Chico Buarque acertou em cheio quando chamou Deus de cara gozador e lembrou do Rei de Havana, que cagava pra Deus, não acreditava em porra nenhuma, nem nele próprio.
Carmem estava de saco cheio e parou para se alongar. Lembrou de uns exercícios que a amiga zen tinha ensinado para os momentos de angústia e dor nas costas. Mas doía tudo, até na hora do exercício. Riu sozinha imaginando a cena esdrúxula de uma mulher com pijama florido se esticando e respirando alto, no meio do quarto às três da manhã.
Riu sozinha. Gostou de rir sozinha e riu mais um pouco, só de brincadeira, mas antes preferiu se assegurar de que todos na casa estavam dormindo; não queria correr o risco de alguém abrir a porta e flagrá-la nessa situação. Riu por alguns minutos, rindo do riso, rindo do esdrúxulo, dos pijamas floridos, do texto sem nexo que estava escrevendo. Riu da dor nas costas, pois ela aumentava quando o corpo contraía com as gargalhadas silenciosas e levantou os braços, mexendo meio louca.
Começou a dançar sem música na cabeça, só dançar, considerando que dançar seja se mexer em algum ritmo. Dançou devagar, para não acordar ninguém: nada de movimentos ou pisadas bruscas, deixando que seja lá qual fosse o ritmo inventado, tomasse conta daquele pequeno círculo vazio que seu quarto disponibilizava.
Carmem dançou por dez minutos, rindo. Rindo da dança, do exercício zen, de si mesma. Ficou por alguns minutos exclusivamente em sua companhia. Ficou em si, entrou nela sem perceber. Fez movimentos com a cabeça, girou os pés, exercitou o maxilar, se distraiu, de novo.
Voltou a sentar em frente ao micro com o vento gelado nas costas e se assustou com a hora, mais uma vez.
Elaborou, mentalmente, um e-mail para o orientador, pedindo mais um dia. Aí lembrou que ela já estava no mais um dia que já havia sido pedido. E não podia perder a credibilidade, precisava entregar isso, acabar logo com essa masturbação acadêmica e ir para "os finalmentes", cujo significado era completamente desconhecido.
[Água com gelo. O caminho do quarto à cozinha era como um inferno na Terra: calor até não poder mais, bafo quente no corpo, desconforto físico. Desconforto melhor do que aquele que o arcondicionado não ajuda, nem no máximo.]
Pensou que a amiga tinha razão: Chico Buarque acertou em cheio quando chamou Deus de cara gozador e lembrou do Rei de Havana, que cagava pra Deus, não acreditava em porra nenhuma, nem nele próprio.
Carmem estava de saco cheio e parou para se alongar. Lembrou de uns exercícios que a amiga zen tinha ensinado para os momentos de angústia e dor nas costas. Mas doía tudo, até na hora do exercício. Riu sozinha imaginando a cena esdrúxula de uma mulher com pijama florido se esticando e respirando alto, no meio do quarto às três da manhã.
Riu sozinha. Gostou de rir sozinha e riu mais um pouco, só de brincadeira, mas antes preferiu se assegurar de que todos na casa estavam dormindo; não queria correr o risco de alguém abrir a porta e flagrá-la nessa situação. Riu por alguns minutos, rindo do riso, rindo do esdrúxulo, dos pijamas floridos, do texto sem nexo que estava escrevendo. Riu da dor nas costas, pois ela aumentava quando o corpo contraía com as gargalhadas silenciosas e levantou os braços, mexendo meio louca.
Começou a dançar sem música na cabeça, só dançar, considerando que dançar seja se mexer em algum ritmo. Dançou devagar, para não acordar ninguém: nada de movimentos ou pisadas bruscas, deixando que seja lá qual fosse o ritmo inventado, tomasse conta daquele pequeno círculo vazio que seu quarto disponibilizava.
Carmem dançou por dez minutos, rindo. Rindo da dança, do exercício zen, de si mesma. Ficou por alguns minutos exclusivamente em sua companhia. Ficou em si, entrou nela sem perceber. Fez movimentos com a cabeça, girou os pés, exercitou o maxilar, se distraiu, de novo.
Voltou a sentar em frente ao micro com o vento gelado nas costas e se assustou com a hora, mais uma vez.
quarta-feira, 4 de março de 2009
Só sei que foi assim.
Outro dia, acordei apaixonada. Foi um sonho cheio de mãos e línguas e barrigas colando uma na outra. Apaixonei-me. Morri de vergonha, pois alguém que faz análise tanto tempo não pode acordar apaixonada porque sonhou gostoso com outra pessoa. Não pode, eu disse pra mim. Não pode, não dá, não é coerente, não é adulto, nem inteligente. Mas foi. Foi grande, foi forte, foi querer pegar avião e tudo, foi mandar torpedo, foi ficar triste com as notícias de volta, foi pensar o dia todo, foi querer agora, ontem, amanhã, pedir a mão, oferecer tudo. Foi suspirar alto, sorrir com o bip do celular. Acordei assim, ora bolas.
Post infinito
Tem um tempo que a gente não conta, não percebe - ou percebe errado, se for possível perceber errado algo que seja para ser percebido -, não mede, e até mesmo - quem sabe!?!? - desconhece.
Falamos de tempo o tempo todo, pedimos tempo, reclamamos que o tempo é curto ao mesmo tempo que não entendemos porque ele não passa logo, quando "logo" é tempo.
Somos capazes até de perder o tempo ou perder tempo.
Não dá tempo de fazer nada: ler aquele livro, ouvir aquele cd, ir até aquele lugar bacana que não sei quem mencionou.
O tempo tá ruim, o tempo tá bom, tempo é dinheiro.
E tem o tempo do pensamento.
Aqueles insights que não sabemos como tivemos tantas idéias em apenas um segundo, o tempo do sonho, que, apesar de termos dormido 8 horas seguidas, dizemos: sonhei que bati com o carro e o carro virava uma azeitona. (Oito horas só pra isso?)
Tem aquele tempo do termômetro do "A Montanha Mágica", quando os sete minutos do termômetro nas axilas parecem mais rápidos do que os sete minutos do dia anterior, do mesmo termômetro, na mesma axila.
O tempo do Johnny Carter, do "O Perseguidor", de quando se está no metrô e a quantidade de coisas pensadas no deslocamento de duas estações - deslocamento esse que dura 3 minutos - demorariam não menos de uma hora para serem verbalizados.
Cada coisa no seu tempo talvez seja uma das frases mais irritantes em certos momentos - só perde para o 'vai passar, você vai ver...' e para o 'não fica assim não'. Porque acontece que esse tempo é grande. O tempo da cabeça não é o do relógio e o do relógio não é o que a gente vive que, por sua vez, não é o tempo que a gente precisaria, porque, no fim das contas, o tempo nunca é suficiente.
Às vezes eu acho que o tempo não existe, mas é indiscutível que ele passa.
Isso é fato: o tempo passa voando, passa raspando, passa e destrói, passa e melhora, passa e defuma, passa e apodrece, passa e deixa nascer, e passa, apenas.
Passa que a gente nem vê, nem sente, e aí o tempo vira passado.
O tempo futuro é o que a gente não sabe o que vem trazendo, mas tá lá - tá lá um coquinho! Ele ainda não é, a não ser que seja em um outro 'mundo' e a gente caminha até ele - e vem, nem que seja para passar, apenas.
Tem o tempo presente que, nunca é, pois o é já deixará de ter sido um segundo depois e tudo dependendo do referencial: a primeira linha deste post é - se pensarmos no post dentro do blog - e foi - se pensarmos apenas no post e que eu já estou pra lá da vigésima linha, no bloco de notas.
Meu tempo tá acabando ou começando? Ou está no meio? Tem meio no tempo? Meio-tempo? É perda de tempo?
(...)
::Para ler::
O Perseguidor, conto de Julio Cortazar
Falamos de tempo o tempo todo, pedimos tempo, reclamamos que o tempo é curto ao mesmo tempo que não entendemos porque ele não passa logo, quando "logo" é tempo.
Somos capazes até de perder o tempo ou perder tempo.
Não dá tempo de fazer nada: ler aquele livro, ouvir aquele cd, ir até aquele lugar bacana que não sei quem mencionou.
O tempo tá ruim, o tempo tá bom, tempo é dinheiro.
E tem o tempo do pensamento.
Aqueles insights que não sabemos como tivemos tantas idéias em apenas um segundo, o tempo do sonho, que, apesar de termos dormido 8 horas seguidas, dizemos: sonhei que bati com o carro e o carro virava uma azeitona. (Oito horas só pra isso?)
Tem aquele tempo do termômetro do "A Montanha Mágica", quando os sete minutos do termômetro nas axilas parecem mais rápidos do que os sete minutos do dia anterior, do mesmo termômetro, na mesma axila.
O tempo do Johnny Carter, do "O Perseguidor", de quando se está no metrô e a quantidade de coisas pensadas no deslocamento de duas estações - deslocamento esse que dura 3 minutos - demorariam não menos de uma hora para serem verbalizados.
Cada coisa no seu tempo talvez seja uma das frases mais irritantes em certos momentos - só perde para o 'vai passar, você vai ver...' e para o 'não fica assim não'. Porque acontece que esse tempo é grande. O tempo da cabeça não é o do relógio e o do relógio não é o que a gente vive que, por sua vez, não é o tempo que a gente precisaria, porque, no fim das contas, o tempo nunca é suficiente.
Às vezes eu acho que o tempo não existe, mas é indiscutível que ele passa.
Isso é fato: o tempo passa voando, passa raspando, passa e destrói, passa e melhora, passa e defuma, passa e apodrece, passa e deixa nascer, e passa, apenas.
Passa que a gente nem vê, nem sente, e aí o tempo vira passado.
O tempo futuro é o que a gente não sabe o que vem trazendo, mas tá lá - tá lá um coquinho! Ele ainda não é, a não ser que seja em um outro 'mundo' e a gente caminha até ele - e vem, nem que seja para passar, apenas.
Tem o tempo presente que, nunca é, pois o é já deixará de ter sido um segundo depois e tudo dependendo do referencial: a primeira linha deste post é - se pensarmos no post dentro do blog - e foi - se pensarmos apenas no post e que eu já estou pra lá da vigésima linha, no bloco de notas.
Meu tempo tá acabando ou começando? Ou está no meio? Tem meio no tempo? Meio-tempo? É perda de tempo?
(...)
::Para ler::
O Perseguidor, conto de Julio Cortazar
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